João Garcia

A Resignação da Asfixia das Liberdades

04 de Abril de 2024


O sufocar das liberdades e o encolher dos ombros perante a imposição de restrições estão a moldar uma sociedade resignada. A falta de solidariedade, a indiferença e a divisão social são sintomas alarmantes que exigem uma chamada à consciência coletiva.

Num mundo onde a globalização é uma força dominante, é perturbador como abraçamos passivamente o "não pode" como norma. Parece que estamos presos num ciclo de radicalização, e é irónico que, após meio século desde o 25 de Abril, a aceitação da proibição nunca tenha sido tão generalizada. Somos confrontados com um panorama onde, em muitos aspetos, vivemos sob um regime ditatorial.

O peso das leis absurdas que nos são impostas em nome da regulamentação torna-se cada vez mais esmagador. O discurso predominante é o da vigilância, enquanto os cidadãos se veem constantemente expostos e vulneráveis. É desconcertante que o Estado, encarregado de ser o guardião da Lei de Proteção de Dados, seja frequentemente o primeiro a violá-la. Nossos documentos pessoais são solicitados e copiados incessantemente para uma infinidade de fins administrativos, expondo-nos a riscos crescentes de segurança e uma violação da privacidade como nunca existiu nos últimos 50 anos.

O emaranhado de normas e regulamentos cresce a cada dia, num clima de desconfiança generalizada. O panorama legislativo é tão complexo e caótico que torna qualquer tentativa de reforma administrativa impossível. Para os empresários, essa situação é ainda mais desafiadora, afogados numa maré de burocracia, taxas e declarações intermináveis. Ser proprietário de uma empresa hoje significa uma invasão constante da sua vida privada.

Atualmente, toda a informação está armazenada na "nuvem" digital, onde qualquer pessoa, mediante pagamento, claro, pode aceder a informações internas das empresas privadas, tudo em nome da transparência ou da competição justa. Mas questiona-se: se esta informação é de natureza privada, por que razão deve estar tão amplamente disponível? Quem investiu dinheiro nestas empresas? Certamente não foi o Estado. Não é crime gerar empregos, contribuir para o desenvolvimento das comunidades ou gerar investimentos. Então, por que razão o mercado clandestino e paralelo funciona tão bem?

Os prazos e pagamentos tornaram-se os companheiros diários tanto nas empresas como na nossa vida pessoal. Não há um dia que não somos confrontados com um prazo para o pagamento de qualquer coisa, esta ditadura que foi implantada não nos leva a ter reação nenhuma, aceitamos pacificamente, estamos conformados que em nome da transparência e do combate à corrupção se possa violar os princípios básicos da nossa privacidade pessoal.

É preocupante observar como os jovens frequentemente aceitam passivamente as proibições sem questionar o seu fundamento ou contexto. Crescem numa era onde a autoridade da ciência é vista como inquestionável e as recomendações são tratadas como leis absolutas, ditando o que é permitido ou proibido na sociedade.

Esta dinâmica pode levar a uma espécie de "resignação intelectual", onde os jovens internalizam a ideia de que não têm voz na determinação do seu próprio destino. Em vez de serem agentes ativos na formação da sociedade em que vivem, tornam-se meros observadores, seguindo as diretrizes estabelecidas pelos estudos e pelas autoridades que os interpretam.

No entanto, é fundamental lembrar que a ciência é uma ferramenta poderosa, mas não é infalível. Reflete o conhecimento atual e as descobertas em constante evolução, sujeitas a revisões e novas interpretações. Os jovens devem ser incentivados a questionar, analisar criticamente e participar ativamente do diálogo sobre as questões que afetam as suas vidas e o futuro da sociedade.

É essencial promover uma cultura de pensamento crítico e autonomia intelectual entre os jovens, capacitando-os a avaliar evidências, considerar diferentes perspetivas e tomar decisões informadas. Não devem apenas aceitar o "proibido" como uma sentença final, mas sim tentar compreender os fundamentos por trás das restrições e, quando apropriado, desafiar o status quo em busca de um caminho mais justo e equitativo para todos.

Portanto, é crucial equilibrar o respeito pela autoridade com a capacidade de questionamento. Somente assim poderão verdadeiramente influenciar e moldar o rumo da sociedade, em vez de serem meros espectadores das decisões que afetam o seu presente e futuro.

Numa sociedade cada vez mais asfixiada pela burocracia e pela desconfiança, urge repensar profundamente nosso sistema legislativo e administrativo, promovendo maior agilidade, simplificação e, acima de tudo, respeito pelos direitos individuais.

O sufocar das liberdades e o encolher dos ombros perante a imposição de restrições estão a moldar uma sociedade resignada. A falta de solidariedade, a indiferença e a divisão social são sintomas alarmantes que exigem uma chamada à consciência coletiva.

Num mundo onde a globalização é uma forç…





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