João Garcia

Desafios da Democracia Portuguesa: Crise Política e Instabilidade

12 de Março de 2024


Vivemos um momento sem precedentes na história política recente de Portugal, onde crises políticas simultâneas no Governo da República e nos Governos das Regiões Autónomas nos conduziram a duas eleições, sem que destas resultasse um incremento da estabilidade política, económica e social, aliás bem pelo contrário. O presente cenário é um dos mais desafiadores momentos dos 50 anos da democracia portuguesa, num ano em que deveria ser, apenas, de celebração. Assim não o entendeu o Presidente da República que, mais uma vez, decidiu ser protagonista, motivando e sendo o principal responsável pela situação instabilidade que vivemos.

É inegável que esta situação também resulta de uma conjuntura global, transversal, onde todos nós contribuímos, de alguma forma, ainda que por omissão, para o processo de degradação da democracia. Deixámos que ocorressem divisões, em alguns casos perfeitamente desnecessárias, no seio da sociedade e vivemos em constante depressão mediática, criando condições vantajosas para o avanço dos que fazem da superficialidade e da propaganda a arma para nos iludir.

Não podemos, em nome da liberdade e dos valores democráticos, continuar no conforto do sofá, assimilando, por vezes sem qualquer filtro crítico, as opiniões de um conjunto de comentadores, frequentemente com “agendas” pessoais que até são, mais ou menos, conhecidas.

As mais recentes campanhas eleitorais foram marcadas pela ausência de projetos e ideias para o futuro. As estratégias utilizadas nestas campanhas remontam há duas décadas, relegando o debate estratégico para as próximas décadas e o que verdadeiramente interessa às pessoas para segundo plano.

Em paralelo verificamos uma crescente tendência de “certas pessoas” migrarem de um partido para outro, conforme a sua conveniência pessoal de poder, escolhendo sempre o lado que lhes pode garantir vantagens. A situação e credibilidades dos agentes e estruturas políticas não melhora quando políticos e membros da sociedade mudam de posição, abandonando os seus passados e posições que publicamente assumiam, em prol do que lhes é individualmente mais conveniente, num fenómeno conhecido como "sobrevivência da palhinha". Infelizmente, os partidos políticos continuam a acolher este tipo de indivíduos, carentes de integridade para se manterem fiéis e leais a si próprios. Chega de recorrer a táticas ultrapassadas, que minam a confiança e degradam a nossa democracia.

Indivíduos anteriormente desconsiderados politicamente encontram, de repente, espaço num cenário político marcado por extremos, onde uma minoria de votos garante um lugar no governo. A memória é breve e seletiva, mas aqueles que mantêm a lucidez não vão ignorar ou aceitar como coincidência outros que, num passado bem recente e publicamente, os rotulavam como um problema ou incapazes de liderar e que agora aparecem como os amigos de uma vida.

O desafio reside em encontrar líderes capazes, comprometidos com o bem comum e motivados para unir diferentes partes da sociedade em torno de um objetivo comum. Devemos priorizar políticos com visão, integridade e habilidades de liderança sólidas. A verdadeira liderança vai além da retórica e das aparências; ela exige um compromisso genuíno com os interesses da sociedade e a capacidade de tomar decisões difíceis em tempos de incerteza e desafio.

Neste momento crucial para o regime em que vivemos, é essencial que olhemos para além das figuras políticas individuais e nos concentremos nos princípios e ideais que sustentam uma sociedade livre, justa e próspera. Apesar deste ser um momento difícil para a democracia, deverá ser encarado por todos como um ponto de partida, uma oportunidade para a sociedade se autoavaliar e de se preparar para próximos atos eleitorais, sejam eles a curto ou a médio prazo. Não podemos permitir que aqueles que no passado lutaram pela defesa dos valores basilares de "Abril", por nós e pelas gerações futuras, enfrentem retrocessos políticos e até mesmo civilizacionais.

Não é “tudo igual!". Devemos aprender a separar as ideologias e o fanatismo partidário das boas ideias, concentrando-nos no objetivo de criar uma sociedade mais igualitária e justa. Este é o momento de exigir uma liderança que esteja verdadeiramente comprometida, responsável com o bem-estar coletivo e que trabalhe incansavelmente para alcançar esse desiderato, tendo a coragem de colocar as pessoas e a democracia acima dos interesses partidários.

Vivemos um momento sem precedentes na história política recente de Portugal, onde crises políticas simultâneas no Governo da República e nos Governos das Regiões Autónomas nos conduziram a duas eleições, sem que destas resultasse um incremento da estabilidade política, económica e social, aliás bem pelo contr&aac…





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