Nesse último ano lectivo, teve um comportamento muito diferente dos anos anteriores. Seguro de si e sabendo-se capaz de conciliar os estudos com algum divertimento, começou a participar com maior frequência em serenatas e outras formas de diversão características da estudantada coimbrã. Passou mesmo a flirtar com as colegas e aceitar os seus convites para a cama ele que, enquanto namorado da Joana, considerava isso impensável e  até desprezava aquelas levianas  que não eram capazes de manter uma conversa em que o sexo não viesse à baila. Aliás, os problemas de consciência que se lhe colocariam em relação à Joana, na hipótese de uma traiçãozinha, não o incomodavam mais.

Foi também nesse ano que a agitação estudantil atingiu o auge e já não se limitava a reivindicar a Reforma do Ensino, mas avançava para outras áreas da vida nacional, com especial incidência para a guerra colonial que o país mantinha. Ele que se quedara um pouco à margem dessa agitação foi sensível aos movimentos que se opunham àquela maldita guerra, pois sabia que nem ele nem nenhum jovem podia acalentar qualquer sonho sem primeiro passar por aquela experiência traumática. De que serviria programar um futuro se uma bala, uma mina anti-pessoal, uma emboscada, ou outra qualquer forma de destruição, em que as guerras são férteis, poderia numa fracção de segundo deitar tudo a perder? Começou a participar - sem nunca descurar os estudos - em diversas manifestações e recorda-se de numa delas, ter sido atingido por uma bastonada dum polícia. Quando recuperou os sentidos, estava rodeado de colegas também detidos e que, tal como ele, foram sujeitos a um penoso interrogatório. Mandados em liberdade, no dia seguinte, mas com a recomendação de que em nova detenção as coisas não se passariam assim. Ora, se havia virtude que a polícia política possuía era de cumprir as suas promessas. Passou a participar em reuniões clandestinas e teve a certeza de que a sua vida era seguida de perto. A partir daí ganhou uma aversão ao regime que o levou a participar, activamente, na preparação do 25 de Abril de 1974.