Como se enganaram os(as) colegas, já habituados à sua inconstância, quando afirmavam em tom de mofa que aquele namoro não passaria de mais uma breve paixoneta como tantas outras. Pois ela nem era nada de espantar. E, na realidade, a Joana ficava muito aquém - pelo menos em beleza exterior - das muitas namoradas que ele já tivera. Hoje diriam: - Ela nem é nada sexy! O que o prendera então? O mais perturbador era exactamente essa sua incapacidade para o definir quando confrontado com a pergunta, mesmo se formulada a si próprio. Seria o seu ar despretensioso? Aquela simultaneidade de candura e maturidade que emanavam dela quando falava? Ele que já, de há muito, começara a detestar a frivolidade das anteriores namoradas, imaturas, com as quais não conseguia abordar um assunto sério, sem receber por resposta um chorrilho de banalidades. Ou então aquela simplicidade que se lhe notava no vestir, no pentear, naquele rosto duma frescura que parecia em toda a vida só ter conhecido água e sabão? Sempre censurara - talvez um ignorado resquício do rapaz do campo - aquelas colegas que apareciam no Liceu de lábios exageradamente pintados para a idade, besuntadas com toda a sorte de cremes e tresandando a perfume por vezes de qualidade duvidosa. Fosse porque motivo fosse, o amor que ela lhe despertara, ainda durava quando ele partiu para Coimbra; durou ainda os três primeiros anos do curso e ainda o transportava consigo quando partiu para a frequência do 4º. ano. Amor mantido nas ausências por cartas repassadas de paixão e, nas férias, aproveitando todos os momentos de que ela dispunha para se dedicarem um ao outro. Ela, entretanto, já terminara o Curso Comercial e trabalhava no escritório duma empresa em Angra. Mas também haveria de ser no Natal desse quarto ano que esse amor sofreria um rude golpe ao qual não sobreviveu.