Carlos Faria

Petição Horta a Cidade: a atender levou séculos

28 de Junho de 2022


Passado o dia de São João, - que há décadas a Autarquia da Horta tenta, à força, animar para assim justificar o feriado municipal de 24 de junho – esta semana entramos já nas comemorações da elevação da Horta a cidade que ocorreu por alvará de 4 de julho de 1833, sendo regente imperial D. Pedro IV em nome de sua filha D Maria II, andava Portugal então em guerra com o rei D Miguel.

Na verdade, atender à reivindicação dos Faialenses para elevar a Horta a cidade não foi tarefa fácil nem rápida. Lendo os Anais do Município da Horta, de Marcelino Lima, descobre-se que já a 16 de junho de 1670 fora apresentado e com justificação a Sua Majestade de então um primeiro pedido de elevação da vila da Horta ao nível de cidade. Uma petição que caiu em saco roto e só passados 163 anos os poderes de Lisboa e após nova e intensa luta concederam a esta povoação tal categoria.

Lendo “Das Origens a 1833 - História da Ilha do Faial”, editado pela Câmara Municipal da Horta, fica evidente que, no século XIX, a reivindicação da passagem da Horta a cidade e depois a capital de distrito não foi uma conquista fácil. Então, os Faialenses tiveram de lutar politicamente com o poder instalado em Angra, de quem esta ilha dependia e cuja influência em Lisboa era bem maior e se desta vez esta terra conseguiu o que almejava não contou com votos favoráveis terceirenses.

Apesar da ascensão da Horta a cidade ter sido uma luta longa e difícil, parece-me que poucos Faialenses hoje em dia se lembram do aniversário da Horta como cidade. Aliás, este não é um mal recente, se falar com muita gente desta ilha menos jovem o 4 de julho é apenas recordado como dia do baile do 4th July, evento que, além de ter como fito os nossos emigrantes que nos visitavam, comemorava apenas o aniversário dos Estados Unidos: um país estrangeiro e não havia qualquer referência à efeméride que esta terra deveria, sobretudo, celebrar naquela data.

Nos últimos anos tem havido, associado às comemorações do aniversário da Horta como cidade, uma festa no Mercado e parece-se que os Faialenses até falam mais espontaneamente da Festa do Mercado do que da de São João, contudo, novamente esta lembrança aparece em muitos desgarrada de qualquer congratulação de parabéns à cidade da Horta.

Isto acontece, talvez, porque muitos de nós nos acomodámos e esquecemos os que defenderam esta ilha e não nos unimos devidamente pela nossa ilha e cidade, pequena e com pouco peso político reivindicativo, contra outras frentes maiores que nos tendem a abafar.

Foram as condições naturais das baías na Horta que garantiam a proteção contra tempestades de diversos quadrantes e, em simultâneo, as correntes marinhas e os ventos que encaminhavam as caravelas para esta terra, que asseguraram a importância do nosso porto, onde tendia a haver menos naufrágios que junto da sede da capitania em Angra.

Foi pela visão externa dos Dabney que vingou o comércio internacional intenso ao longo do século XIX na Horta e foi o posicionamento estratégico, bem como existirem bons pontos naturais de atracação, que levou à opção das empresas estrangeiras de cabos submarinos se instalarem no Faial.

Assim, muito do que temos foi a natureza que nos deu e não fruto das reivindicações dos Faialenses. Infelizmente, quando precisamos de lutar e temos adversários fortes, que sabem explorar as nossas saudáveis diferenças partidárias e ideológicas para nos enfraquecer, então, as nossas reivindicações podem levar séculos a ser atendidas ou são executadas pelos mínimos de forma a comprometer o futuro. Por isso o Faial e a Horta caíram num marasmo económico iniciado há várias décadas, mas não podemos ser ingratos para com aqueles nossos antepassados que lutaram durante séculos para que a Horta virasse a cidade e fosse capital de distrito e, por isso, ainda hoje acolhe departamentos do Governo dos Açores.

É a pensar nos que não baixam nunca os braços na defesa do Faial que eu envio desta coluna os meus Parabéns à cidade da Horta.

Passado o dia de São João, - que há décadas a Autarquia da Horta tenta, à força, animar para assim justificar o feriado municipal de 24 de junho – esta semana entramos já nas comemorações da elevação da Horta a cidade que ocorreu por alvará de 4 de julho de 1833, sendo regente imperial D. Pedro IV em nome …





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