João Garcia

Reféns da Mudança

06 de Junho de 2024


A sociedade faialense encontra-se conformada e indiferente, e o cansaço é visível. A promessa de uma mudança de ciclo, outrora anunciada com fervor, parece agora desvanecer-se. Nas conversas ecoa a desilusão de muitos, que esperavam por algo diferente, mas veem a repetição dos mesmos problemas e até o agravamento das desigualdades.

Os transportes marítimos, vitais para a mobilidade e o comércio, são um reflexo claro dessa estagnação. Em vez de progresso, enfrentamos atrasos, precariedade e um retrocesso sem paralelo. O que poderia ser uma porta para o desenvolvimento e a conectividade da ilha do Faial tornou-se num labirinto de frustrações e ineficiência. Esta situação, que já se arrasta há mais de um ano, só agora teve uma posição concertada das entidades locais, contrastando naturalmente com as posturas reivindicativas do passado, essas sim que defendiam o Faial em primeiro lugar.

Não são apenas os transportes marítimos que falham. Nos céus, a situação não é muito diferente. A companhia aérea SATA, repetidamente, anuncia novas rotas para São Miguel com grande alarde, esquecendo a sua principal função: servir todos os Açorianos. Os habitantes das outras ilhas observam impotentes enquanto as suas necessidades são negligenciadas, sentindo-se cada vez mais isolados. A situação “ímpar” das últimas semanas, no Faial é constante e a sociedade movimentou-se no passado, mas como quem tem telhados de vidro não atira pedras, hoje estamos como nunca estivemos.

Esta ilha, que deveria ser um símbolo de inovação e crescimento, apresenta-se remendada, um mosaico de tentativas falhadas de renovação. As obras inacabadas e os projetos adiados são monumentos silenciosos de promessas não cumpridas. O comércio tradicional, que já foi a espinha dorsal da economia local, definha sob o peso da falta de apoio. As lojas fecham as suas portas, uma a uma, deixando para trás ruas vazias e montras empoeiradas.

A massa crítica, essencial para qualquer transformação social significativa, está ausente. A apatia domina, e a indiferença espalha-se. Sem vozes que questionem, que exijam mudanças reais, o status quo perpetua-se. A esperança, aparentemente vibrante, agora é um eco distante, sufocada pela repetição incessante dos mesmos problemas.

Neste cenário, a mudança não é apenas desejável; é necessária. No entanto, a inércia coletiva torna essa tarefa cada vez mais difícil de alcançar. É preciso um despertar, uma revitalização do espírito comunitário, para romper com o ciclo de conformidade e desencanto. Só assim poderemos ver além dos remendos e das falhas.

A construção de uma sociedade mais justa e igualitária não se faz apenas com obras de cosmética ou estradas que não nos levam a lugar algum. É necessário um compromisso real e duradouro com a melhoria das condições de vida da população, garantindo que todos tenham acesso às mesmas oportunidades. Para que isso aconteça, é preciso uma reflexão séria sobre o nosso futuro.

No Faial, a ausência de uma estratégia económica definida é evidente. Não há progresso nem modernidade sem objetivos claros. O poder político carece de uma visão para a ilha do Faial. Estamos longe de ter um planeamento a 30 anos e de definir áreas de investimento prioritário. Tudo é feito de forma improvisada, sem ambição, e desta forma não geramos desenvolvimento sustentável. Estamos condenados à sazonalidade e continuamos a ver os sucessivos governos a incentivar a economia das restantes ilhas, enquanto o Faial permanece sem horizontes. São muitos os exemplos de esvaziamento desta ilha, e quem pensa que essa situação se alterou está enganado.

Para que a população realmente se veja representada e beneficiada pelo progresso, é imprescindível a atuação de agentes políticos ativos e reivindicativos. Estes agentes devem estar comprometidos com os interesses coletivos, ouvindo as necessidades da comunidade e lutando por políticas públicas que promovam o bem-estar social. A sua presença e ação são fundamentais para assegurar que as decisões políticas reflitam os anseios e as demandas da sociedade.

Em suma, necessitamos urgentemente de uma estratégia económica robusta e visionária para atrair investimentos e fomentar o progresso. Sem isso, a estagnação e a insatisfação continuarão a prevalecer, impedindo qualquer avanço significativo, continuando refém de uma mudança de atitude que teima em adiar o futuro do Faial.

 

 

 

A sociedade faialense encontra-se conformada e indiferente, e o cansaço é visível. A promessa de uma mudança de ciclo, outrora anunciada com fervor, parece agora desvanecer-se. Nas conversas ecoa a desilusão de muitos, que esperavam por algo diferente, mas veem a repetição dos mesmos problemas e até o agravamento das desigualdades.





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