Embora nem todas as valências e infraestruturas estejam ainda concluídas, o que remete a Semana do Mar mais uma vez para a zona da Alagoa, lugar discutível, mas que pessoalmente gosto, finalmente vai ser inaugurada a obra da Frente Mar na zona que compreende a Praça do Infante e a Avenida Marginal.
Projeto que foi alvo de mais polémicas depois de iniciada a obra do que enquanto esteve em consulta pública. Confesso que até há 3 anos atrás tinha por experiência que as minhas propostas tendiam a cair em saco roto, por isso, então pouco mais fiz do que alimentar a minha curiosidade sobre o que se perspetivava para a zona e pensava que a obra iria melhorar a frente mar da cidade.
Reconheço que alguns dos problemas técnicos depois levantados já em fase de construção, como a inclinação errada da curvatura da via junto ao Canto Dona Joana e o escoamento das águas pluviais, nem eu me apercebera deles naquele período de auscultação.
Agora percebo que o atual elenco camarário herdou um projeto com problemas não corrigidos a tempo pelos antecessores e que, se parasse a obra, muitos dos que denunciaram problemas e subscreveram abaixo-assinados estariam também hoje a acusar aqueles autarcas de não concluírem em devido tempo o projeto.
A política em democracia liberal é mesmo tramada! Nunca estão todos satisfeitos e os insatisfeitos sentem-se sempre com mais razão do que os outros e as redes sociais ampliaram esta realidade!
Por ter considerado que o aproveitamento da calçada da antiga avenida não atrasava muito a obra e o seu valor histórico-cultural, subscrevi o abaixo-assinado para a sua preservação e não me arrependo. Mas, tendo em conta o que referi no parágrafo anterior, evitei depois ampliar a discussão nas redes sociais e esperei para ver. Hoje vejo um corte muito agressivo entre o piso da zona intervencionada e o que ainda subsiste no resto da avenida. Penso que a reposição da trama antiga no corredor que antes ocupava teria suavizado o choque da solução adotada que me parece uma piroseira de novo-rico sem contexto artístico ou tradicional, é apenas um elemento decorativo.
Já questão da floresta de pilaretes foi algo que também nunca me apercebi dos desenhos que antes vi. Na minha opinião, os pilaretes são uma solução de recurso para resolver um problema de segurança entre circulação viária e peões num espaço existente, mas não tem qualidade para ordenar uma intervenção de raiz. Assim, além do aparente novo-riquismo ostensivo do novo piso, que nem é bem calçada portuguesa, os pilaretes mancham a imagem de qualidade que se queria para aquele espaço e oferecerem perigo para peões e viaturas. Neste aspeto, penso que os acabamentos e arranjos da frente-mar mereciam ter sido tratados com melhor cuidado e mais dignidade.
Apesar de tudo, também penso que, em termos de condições para usufruto da frente mar por parte dos cidadãos, esta obra melhorou o espaço da avenida. Os defeitos apontados não me parecem que esteja perante um projeto de referência pela sua qualidade estética de arranjo urbanístico, mas as pessoas ao menos agora podem passear mais desafogadamente naquele troço e assumo que, finalmente, a estátua do Presidente Manuel Arriaga está num espaço que o estatuto da personalidade homenageada merece. Assim, o balanço desta intervenção, que tem aspetos de qualidade duvidosa, é positivo e a Autarquia está a cumprir os prazos sem atrasos que mereçam críticas.
A merecer crítica forte está de facto outra obra herdada: o Parque de Estacionamento na rua de São João, cujo concurso para demolição está a decorrer. Aqui parece não ter sido a qualidade duvidosa do projetista em termos estéticos ou de erros técnicos a origem do problema, mas sim do construtor, da fiscalização e do dono da obra que não se impôs aos dois anteriores.
Infelizmente, em democracia há demasiada pressa para apresentar obra e isto parece-me estar a ser um chão fértil ora para a má qualidade de projetos, ora para não se corrigirem erros a tempo, ora para a qualidade da construção. Talvez por isso, hoje vemos obras com mais de um século que resistem muito melhor ao tempo do que algumas executadas já durante a Autonomia dos Açores e esta praga deve ser controlada antes que as futuras gerações apenas recebam de nós infraestruturas defeituosas ou de má qualidade, mesmo que, por vezes, inicialmente pareçam grandiosas.