Carlos Frayão

Uma vitória eleitoral curta e com soluções governativas instáveis (Parte II)

26 de Fevereiro de 2024


Nas eleições legislativas regionais, em 4 de Fevereiro p. p., o Chega mais do que duplicou os seus votos e passou de 2 para 5 deputados.

Nas próximas eleições para a Assembleia da República (AR) as sondagens prevêem que o Chega alcance 16 ou 17% dos votos e passe dos actuais 12 para cerca de 40 deputados.

A ascensão dos chamados partidos de «extrema-direita» está a acontecer em toda a Europa: eles já participam nos governos de Itália, da Finlândia, da Hungria e da Suécia (na Holanda, há 3 meses, um deles, o PVV, ganhou, com maioria relativa, as eleições, não tendo ainda conseguido formar governo), mas eles também influenciam, por acordos entre partidos, mais 7 governos e detêm representações parlamentares importantes noutros 10 países europeus (em França, em 2022, o Rassemblement National de Marine Le Pen obteve 41,8% dos votos).

As causas da ascensão dos chamados partidos de extrema-direita são conhecidas.

A ofensiva neoliberal, desencadeada por Reagan, Thatcher e Pinochet nos anos 80 e 90 do século passado, alargou-se nos últimos 30 anos à generalidade dos países e deu lugar, entre outras consequências, à desregulação das economias, à liberdade absoluta de circulação de capitais, à privatização generalizada das empresas públicas, à flexibilização das leis laborais, à desindustrialização de muitos países, ao retrocesso de importantes conquistas dos trabalhadores, à subordinação das políticas económicas aos interesses das grandes empresas multinacionais e ao esvaziamento da função social do estado.

De então para cá as crises cíclicas da economia capitalista, com especial destaque para a crise de 2008, agudizaram-se e, com as suas consequências ampliadas pelos efeitos da pandemia e da guerra, extremaram ainda mais as desigualdades sociais e empobreceram e deixaram mais desprotegidas vastas camadas das populações.

Em Portugal a social-democracia também fez ao neoliberalismo importantes concessões, que começaram muito antes mas que se agravaram a partir de 2005 com os governos de José Sócrates, de Passos Coelho/Paulo Portas e de António Costa (depois de este se ter recusado a contemplar legítimas aspirações dos trabalhadores e das populações em matéria de salários, de legislação laboral e de defesa do SNS que, no âmbito da “geringonça”, o BE, o PCP e o PEV quiseram inscrever nos orçamentos dos governos do PS.

As consequências das concessões do PS e do PSD à “agenda neoliberal” têm sido duramente sentidas pelos portugueses: a pobreza abrange hoje 17% da população e ameaça 2,1 milhões de portugueses (a taxa de risco de pobreza nos Açores, a mais elevada do país, é de 26,1%); os salários em Portugal aumentaram, mas estão cada vez mais longe dos salários do topo europeus e atrás de países como a Lituânia, a Roménia, a Polónia e a Eslovénia; os serviços públicos têm-se degradado constantemente e respondem cada vez pior às necessidades que deveriam satisfazer (é especialmente grave a situação na saúde, nas escolas, nos tribunais e nas forças de segurança); a crise na habitação tem-se agravado: cada vez mais portugueses não conseguem pagar as rendas ou as prestações do crédito bancário; e tem-se difundido a percepção da existência de uma obscena promiscuidade entre o poder político e o mundo dos negócios e de um escandaloso alastramento da corrupção…

Muitos portugueses, por não acompanharem a vida política nacional e internacional, ou por não se interessarem por ela, são influenciados pela desinformação veiculada pelas redes sociais, não são capazes de identificar os responsáveis pelas injustiças que os vitimam e consideram que elas são inerentes a um sistema dominado pelos poderosos da economia e da política, que se reproduz a si próprio, para o qual não há alternativa…

A maioria dos votos no Chega são, por isso, em primeiro lugar, votos de protesto contra as injustiças do sistema, pese embora o Chega se apresente falsamente como um partido anti-sistema.

Na verdade, nenhum outro partido pertence mais ao sistema do que o Chega, porque, para dar apenas três exemplos, ele identifica-se com o grande capital, que, segundo o Tribunal de Contas, o sustenta (as famílias Mello e Champalimaud têm-no financiado), defende uma ainda menor (ou nenhuma) intervenção do Estado na economia e propõe uma taxa única de IRS com a qual os mais ricos ficariam a ganhar e os mais pobres a perder…

Mas esta é apenas uma das razões pelas quais a votação e os deputados do Chega têm crescido na Região e na República.

Oportunamente tentarei pronunciar-me sobre as outras razões, bem como sobre o dever que, a meu ver, os partidos políticos democráticos têm de travar a “normalização” do Chega, lamentavelmente iniciada em Novembro de 2020 por Bolieiro, com o apadrinhamento de Rui Rio.

Nas eleições legislativas regionais, em 4 de Fevereiro p. p., o Chega mais do que duplicou os seus votos e passou de 2 para 5 deputados.

Nas próximas eleições para a Assembleia da República (AR) as sondagens prevêem que o Chega alcance 16 ou 17% dos votos e passe dos actuais 12 para cerca de 40 deputados.

A ascensão dos cham…





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