É sempre perigoso referir nomes de pessoas concretas nas colunas de um jornal, mas às vezes não há alternativa.
Dois homens cultos, elegantes, superiormente dotados e educados, quiseram e souberam conduzir este faialense de torna-viagem, vezes sem conta, através de todos os recantos da cidade e da ilha – ela que cabe, com sobras, numa freguesia de Lisboa, mas tem infinitamente mais que ver -- , na postura mais modesta e discreta que se possa imaginar, explicando tudo, narrando tudo, fazendo tudo rebrilhar de interesse e de significado. O signatário não era autarca, nem governante, nem deputado, nem pessoa de fortuna – era apenas um cidadão simples que, volta e meia, arribava ao Faial com a alma a cantar sem saber bem por quê.
Um desses homens, justamente a primeira testemunha do “regresso”, é (quero manter o presente) Manuel Bettencourt da Rosa. Sempre impecavelmente vestido no seu fato-e-gravata, falando pausadamente e em tom suave, revelando um nível invulgar de conhecimento e reflexão, acolheu este escrevente, até então desconhecido, exactamente como se acolhe uma pessoa do próprio sangue, talvez ele próprio emocionado com o encanto e o entusiasmo do retornado. Por covardia, nas últimas visitas à Horta não quis perguntar por ele.
O outro é João Corvelo, um corvino que até há pouco dirigia o aeroporto da Horta – homem elegante e insinuante, um desportista e um amante das tecnologias e das aventuras correspondentes. Também ele, mais tarde, acolheu muitas vezes o signatário com enorme generosidade, satisfazendo com infinita paciência e pleno saber todas as perguntas, rodeando-o de comodidades e de atenções.
E tudo isto sem nenhum antecedente nem nenhuma razão – para além da qualidade das pessoas e, seguramente, do seu próprio amor a esse pedacinho de terra a boiar no oceano imenso.