João de Brito

Escola do Mar dos Açores

21 de Novembro de 2022


Que escola temos, que escola queremos... certamente a mítica e lendária Escola de Sagres

Recentemente tomou posse o quinto Conselho de Administração (CA) da ADAFMA, associação que gere a Escola do Mar dos Açores (EMA).

Cinco mandatos, em teoria, dariam para um espaço temporal de quinze anos. Passaram pouco mais de dois anos e já se “consumiram” quatro, facto este que merece uma análise cuidada.

Verifico igualmente que os CA “caem”, em média, de seis em seis meses, mas o núcleo duro da EMA (na asserção do Sr. Secretário) mantém-se coeso, não muda nem mudará.

Constato que o Sr. Secretário aprendeu a lição, deixando de participar nos órgãos sociais e remeteu-se ao silêncio, na matéria que diz respeito à Escola do Mar. Louvo-lhe a postura, cuja discrição revela inteligência. Não percebo a postura do Sr. Deputado Paulo Estevão que, liderando o seu grupo parlamentar, veio num passado recente visitar a EMA.

Não entendo, Sr. Deputado. O “seu” Secretário Regional, cada vez mais desvincula-se do assunto. Não se quer associar a um projeto que nunca terá solução (a manter-se como está) e o Sr. Deputado vem como salvador da pátria, numa operação de desvio de atenções, falar dos blocos de apartamentos e da urgente necessidade da sua recuperação, como uma mais-valia, quando a EMA não existe, é uma lenda, que nos custou cerca de 7 000 000 €.

Uma escola pressupõe a existência de cursos, frequentados por alunos, sob a orientação de professores, pelo que pergunto onde estão estes três elementos mínimos. O Sr. Deputado ainda não viu que estamos perante um nado morto?

Posso estar a perceber mal, pois a Sra. Presidente do CA, recentemente, afirmou que a Escola precisa muito de ser reforçada, a nível dos seus quadros, com pessoal auxiliar, presumo eu, professores não precisa, porque não tem alunos!!!

Realmente não devo estar a conseguir uma visão para o futuro, ou estamos perante um mito semelhante à Escola de Sagres. Será que agora o Sr. Deputado parafraseando supostas palavras do Infante, e falando dos apartamentos (da EMA não pode falar... é uma miragem) como orador nato que é poderá enaltecer o contributo que esta Escola terá para: “… a formação dos navegadores que estavam ao serviço do infante, tanto nacionais como estrangeiros, com conhecimentos de cartografia, geografia e astronomia.”. E mais, o Infante terá contratado: “… Jaime Maiorca, um mestre catalão, para gerir uma escola náutica e dar apoio aos marinheiros.”. Será que é destas contratações que a Sra. Presidente falava? Poderá ser...

Sr. Deputado, se fosse a si, desvinculava-me daquilo que ninguém acredita e que já fede. Não dê tiros no seu pé, não se apercebe que quem manda na Escola, não são, nem nunca foram, os sucessivos CA, muitíssimo menos a tutela, Região Autónoma dos Açores, através dos respetivos Secretários Regionais??? Confidencio-lhe uma conversa que tive com o Ilustre Doutor Sandro, e temendo por ele, não por mim, pois já tinha manifestado a minha intenção de sair, junto do Sr. Secretário, disse-lhe no dia 02/08/21, numa longa conversa: “… aqueles que me vão pôr na rua, são os mesmos que te irão pôr a ti …”, na altura apercebi-me que o Ilustre Colega do CA nada percebeu do que lhe queria transmitir, rigorosamente nada, repeti, e vi que continuou a nada entender. Desiludido desisti e deixei-o em paz, feliz. Espero que se tenha lembrado da frase, no dia 30 de setembro último, quando se demitiu. Esclareço que no meu caso a frase não pode ter interpretação à letra, uma vez que saí por vontade própria, estava apenas muito atento a observar as “manobras” dos que me queriam afastar.

Esta é a Escola do Mar dos Açores, Sr. Deputado, a Escola de Sagres, ou seja, aquela que nunca existiu, acredite!!!

Poderá não ser assim. Efetivamente a Escola tem a “atividadesinha” nuns “cursinhos bê-á-bá” de combate a incêndios e primeiros socorros e com o Parque de Limitação de Avarias (PLA) ficou superdotada de infraestruturas para a formação de bombeiros. Para que todos possamos entender o conteúdo programático desta Escola a mesma deveria adotar o nome: “Escola de Formação de Bombeiros dos Açores”. Nesta vertente pergunto: Que fazer ao equipamento que custou, ao que sei, mais de um milhão e meio e que não se encaixa na formação dos profissionais da pesca, muito menos na formação de bombeiros? Que fazer com os simuladores, que parece nem a Escola Náutica Infante Dom Henrique ter igual, cujas cabines, por razões de espaço, foram guardadas numa dependência da oficina de mecânica, pois a EMA, com o desenrolar da obra, sofreu tanta alteração que deixou de ter salas de aulas? Ou será que me esqueço, sucessivamente, que não sendo escola não precisa de salas de aulas – é um armazém de equipamento de alta tecnologia, lá isso é!!! Que fazer com o equipamento de topo ao nível da soldadura, tornos, fresadoras, tudo computorizado? Oh, Sr. Deputado ajude-me a perceber: temos uma escola do mar, ou temos uma escola de formação de bombeiros, ou temos uma escola superior náutica, uma vez que há que viabilizar os simuladores de milhões que ensinam a navegar na ponte do “Costa Concordia”? Se assim é, vamos já recuperar os apartamentos e com essa visão/ambição do Infante Dom Henrique captar alunos e professores para esta “Escola Superior Náutica dos Açores”, localizada nesta mui digna Cidade da Horta. No que respeita à parte afeta à oficina, deduzi que a ideia pareceu ser transformar a escola em oficina de apoio aos iatistas, soldar “umas coisinhas”, em inox, soldar uns mastros, em alumínio, atrás disso lá vem a reparação de um VHF, “dá sempre jeito, o dinheiro nunca é demais” (neste sentido a abertura de uma porta, tipo garagem, a sul). Existe ainda um setor de alta tecnologia de reparação de “frio” e assim já podemos levar lá um “frigorificosinho” quando avariar, pois há tanta falta de “gente que os arranje nesta terra, é uma tristeza, de repente a gente perde as nossas coisinhas p’ra comer, graças a Deus que alguém se lembrou disso…”

Já me ia esquecendo Sr. Deputado, de outra valência da Escola do Mar, as duas cozinhas de alta qualidade, fogões, frigoríficos, fornos, picadoras multifunções, etc., etc., tudo em inox puro, melhor não existe. Daria para uma escola de formação hoteleira muitíssimo melhor do que as existentes em S. Miguel. Afinal Sr. Deputado, mais uma vez poderá ter razão, os apartamentos servirão para os alunos e professores desta escola hoteleira deslocados daquela ilha para a Horta.

O Sr. Deputado é um visionário, eu é que não estava a ver a verdadeira dimensão deste projeto, que não teria sido possível se não tivesse tido a intervenção avançada do tal núcleo duro da EMA, para os quais tantas vezes o Sr. Secretário me alertava e que eu, lamentavelmente, sempre desprezei. Assim Sr. Deputado, poderá ser-lhe dado o nome de “Escola Superior Hoteleira dos Açores” e não peca em nada, pois em S. Miguel tem lá umas “coisinhas que não valem nada ao pé desta”. Já que atingimos este nível, vou fazer-lhe uma recomendação, diga a quem manda na Escola (repito, não ao CA) que nos poupem de termos de ver, todas as vezes que lá vai a televisão, uma jangada insuflada, pois além de ser um cenário repetitivo é deveras cansativa essa imagem que nada tem a ver com a real dimensão da EMA, fará parte apenas de uma sua valência, diminuta e insignificante, diria desprezível. Recomende ao núcleo duro que coloque lá, como cenário, algo que dê uma visão macro, nós somos grandes, para pequena já basta a ilha…

Mas Sr. Deputado agora é que eu percebo a afetação da emblemática embarcação “Espalamaca” à EMA. Agora sim, servirá para passeios turísticos com formandos e formadores da “Escola Superior Hoteleira dos Açores” e só para os tripulantes da embarcação precisar-se-á no mínimo de mais um bloco de apartamentos, afinal já está a faltar um, pois dos quatro cada um estará afeto à respetiva valência e para as tripulações terá de haver uma solução!!! Só vejo uma, o Sr. Deputado pedir a um dos elementos do núcleo duro que, como ele me dizia, (e-mail de 02/12/21) a Marinha de Guerra Portuguesa interpela-me: “… superiormente a dar parecer…” (referia-se à localização de uma antena) pelo que estamos perante um faialense que é superiormente ouvido perante essa instituição militar e assim poderá exercer as suas superiores influências nesse sentido. Oh Sr. Deputado tem tudo para dar certo.

Afinal Sr. Deputado Paulo Estêvão, diga-me, já que o Sr. Secretário não quer falar comigo: “Que escola temos e que escola queremos”, que escola dentro destas quatro iremos optar, ou queremos as quatro? Seja como for, tenha respeito pelos açorianos, não tente desviar atenções, com apartamentos ou coisa parecida. Uma coisa é certa, o Sr. tem orçamento para assegurar o funcionamento das quatro escolas em simultâneo. O facto é que o “seu” Secretário transfere anualmente, ao que recordo, mais de 800 000 € para uma escola que não existe, quando, por regra, e aproximadamente, uma escola profissional na Região, dotada de professores e alunos recebe, em média, uma verba inferior a 100 000 €, ao que julgo. Assim o Sr. Deputado até poderá ter mais de dez valências com este orçamento, ou não, pois os níveis remuneratórios da EMA são muito bons. A título de exemplo, digo-lhe que um não licenciado, recebe por mês, ilíquidos 1 866,79 €, acrescidos do subsídio de alimentação, de 4,77 € diários, o que perfaz 1 971,73 € e ainda tem isenção de horário, que dá muito jeito pois a vida não gira só à volta da Escola do Mar, “o inverno está à porta e o vento por vezes derruba antenas no Cabeço Gordo, o mar entra pelo Porto Pim dentro e rebenta com o aquário e tudo o que veio do mar ao mar regressa. Nessas alturas precisamos de todos para salvar as nossas empresas que nos dão o pão, não podemos esquecer que o que hoje bate à porta dos outros amanhã bate à nossa, temos de ser muito unidos, nunca se sabe o dia de amanhã e deixar lá essas “tretas” de horários rígidos, isso é coisa de gente que vem por aí abaixo, que não sabe o que diz pela boca fora, a gente aqui podemos ser “tretas”, mas qualquer “treta” que seja servente de pedreiro, ganha mais do que um doutor das fraldas”.

Que diz a isto Sr. Deputado? O Sr. retire a carga de ironia do parágrafo acima e até percebe o porquê da minha saída. Sair fazia parte das minhas opções, o que não precisava é de ter ouvido um operacional da EMA, dizer “… o João parece que está agarrado à cadeira …”, quando apenas aguardava pela marcação da reunião onde se iria dar a transferência de pasta, o que também não levou mais de uns quatro a cinco dias. Pergunto-lhe Sr. Deputado quem é este Sr., para falar desta maneira e a quem que todos Vós guardais devida vénia???

Hoje temos na Administração Pública técnicos superiores, com licenciaturas concluídas, em que parte são possuidores de mestrado ou doutoramento, para auferirem pouco mais de 900 € líquidos, sem isenção de horário. Se entender eu explico aos açorianos e a si os restantes níveis remuneratórios da Escola do Mar (repito, que não funciona) terei mais esse gosto, os outros casos são também muitíssimo interessantes. Foi penoso, mensalmente autorizar as transferências bancárias inerentes aos pagamentos destes salários. Sistematicamente alertava o Sr. Secretário, que não pode dizer que desconhecia, era tão só o Presidente do Conselho de Administração e a resposta ia no sentido de eu “pagar e calar”.

Que o Sr. queira assumir as “rédeas” até aceito, já que o “seu” Secretário se demitiu não só de facto como do assunto. O Sr. Secretário quando se demitiu do cargo de Presidente do Conselho de Administração convocou eleições, “reconduziu” o Ilustre Doutor e deixou-me cair, como se faz aos criminosos, mas digo-lhe que nunca comi por conta da ADAFMA em qualquer restaurante do Faial ou da Terceira. Entendo que quando gerimos a res publica, acrescem outros cuidados. E para finalizar em grande nem me foi reservada uma cadeira na cerimónia do dia do aniversário da EMA, 30/07/21. Essa foi a postura que o Doutor Sandro adotou, entre outras mais. Na oportunidade transcrevo a mensagem que dirigi a esse Ilustre Colega Doutor Sandro, no dia seguinte: “Boa tarde Doutor Peço-lhe desculpa por só à noite ter-me apercebido da sua mensagem, em hora tardia. Hoje por razões de educação respondo dizendo-lhe que nunca iria. Motivado pelo respeito à minha própria pessoa obviamente não me era possível ir comer “o croquete à borla” sem o devido convite. Foi intenção clara de alguém, não reservar uma cadeira para o homem que na sombra licenciou a EMA e limpou a casa de elementos nefastos. Foi esse mesmo homem que proporcionou o regresso à casa de outro homem entretanto afastado e é o mesmo homem que torna agora possível cortar-se as fitas do que não fizeram. Finalizo endereçando o meu obrigado pelo gesto simpático de ontem, que aliás vem na sequência de tantos outros. Realmente nunca se pode dar aquilo que não se tem. Para mim é suficiente guardar o gosto de ser escutado respeitosamente por pessoas que comungam dos mesmos ideais que eu acredito, que retive no berço e guardarei até à morte, por respeito à memória dos que me ensinaram a ser um homem e não um vulgar palhaço, que só “pincha” na arena do palco motivado pelo “cachê” de mais esse dia de palhaçada, esquece que os outros até pagaram para se rirem dele. Cumprimentos e bom fim-de-semana.”.

(A mensagem surgiu porque à última hora, apareceu uma cadeira e ao que me apercebi, por razões de protocolo, foi assegurado um lugar na mesa das individualidades entre as quais Sua Excelência o Presidente do Governo Regional dos Açores, lugar esse que obviamente não ocupei. Entendi reservar-me ao meu recato e assim deixar livremente o Ilustre Doutor, da Universidade Aberta, ocupar o devido e mais que merecido lugar solene sem a interferência deste humilde licenciado em Direito do qual se poderia envergonhar. Na receção à comitiva Presidencial apercebi-me da presença do então Diretor Regional dos Assuntos do Mar, e com ele preveniu-se eventual gafe e consequente embaraço que eu pudesse causar. A representação ficou dignamente valorizada com a participação deste oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, por sinal último Comandante da Estação Rádio Naval da Horta. O Doutor Sandro demonstrou ser pessoa que prima pelos requintes que a cerimónia exigia.)

Sr. Deputado relatei apenas alguns factos suficientemente elucidativos da inoperância da EMA e o resultado está à vista, daí os sucessivos conselhos de administração. Se pretender ser melhor esclarecido (sobre o tema, ou por exemplo sobre um concurso para chefe de divisão, em que fui presidente do júri, e o “seu” Secretário Regional designou o candidato que estava em terceiro lugar) terei todo o gosto, não se demore, nem se esqueça que, ao que recordo, dos trinta anos da cedência dos imóveis afetos à então Estação Rádio Naval da Horta, pelo menos um terço já lá vai, se não mais, e os cerca de 7 000 000 € gastos, irão para a Républica. Nessa altura o Sr. já estará reformado, quiçá num saudoso regresso às suas origens, a Região serve para isto…

Recentemente tomou posse o quinto Conselho de Administração (CA) da ADAFMA, associação que gere a Escola do Mar dos Açores (EMA).

Cinco mandatos, em teoria, dariam para um espaço temporal de quinze anos. Passaram pouco mais de dois anos e já se “consumiram” quatro, facto este que merece uma análise cuidada.

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