José Couto

A regionalização num contexto global

18 de Novembro de 2022


Para o bem e para o mal, vivemos num mundo cada vez mais globalizado e interconectado. Os benefícios de mercados como o mercado interno europeu proporcionaram novas oportunidades de trabalho e negócio que elevaram milhares de milhões de pessoas da pobreza, quando, há 50 anos, estas estavam fadadas a chafurdar na miséria. Mas tal como o anjo de Robert Hayden, no poema For a Young Artist, estas pessoas encontraram agora o “ângulo de ascensão” e providenciaram condições de vida à sua progénie com que os seus pais nunca teriam sonhado. Na forma dos empreendedores cosmopolitas, a globalização trouxe também novas formas de pensar a sociedade, a economia e as instituições em geral. E embora isso possa contribuir para a dinamização das várias nações e das regiões que as compõem, ameaça colocar em causa a existência destas últimas, sobretudo em termos económicos e sócio culturais. Assim, como encontrar o equilíbrio? Como preservar identidades regionais, como a da Região Autónoma dos Açores, e ser capaz de colher os benefícios de um mundo cada vez mais global?

Primeiramente, é preciso entendermos que a globalização é um fenómeno inevitável e é nesse contexto que devemos repensar a preservação de identidade. Há países que optam por a contrariar, adotando políticas protecionistas. Mas isto depois traduz-se num atraso económico que acaba por prejudicar ainda mais as regiões. Basta olhar para a Coreia do Norte para se perceber isso. Por outro lado, para navegar este admirável mundo novo, é preciso sabermo-nos situar nele. Neste sentido, ajuda se uma comunidade relembrar a sua história e trajetória, de modo a compreenderem como foram criados, quem são e para onde querem ir. É preciso manter presente que nenhuma identidade foi criada num vácuo, mas que antes nasceram de várias interações sócio culturais, políticas e económicas, e o mesmo acontece agora em virtude da globalização, ainda que ampliado a uma escala sem precedentes. Por outro lado, será também a melhor forma de se informarem sobre o seu estado atual e, consequentemente, de se prepararem para dialogar sobretudo com aqueles empreendedores que procuram voltar para ajudar as suas origens.

Enquanto fenómeno, a globalização produziu toda uma nova classe de empreendedores que, das suas viagens, vivências e trabalhos, criaram uma subcultura com a qual se identificam mais do que com as culturas e identidades nacionais dos seus países de origem. No entanto, não nos podemos esquecer que uma boa parte destes empreendedores enveredaram por este caminho para procurarem novas oportunidades, não só para si próprios, mas também para aqueles que conhecem e para a região/país que os criou. Por muito cosmopolitas que sejam, a motivação de muitos remonta ao facto de terem percecionado falhas na sociedade cujos valores e cultura os moldaram em primeiro lugar, mas sentirem que o seu meio lhes desse as ferramentas ou as condições necessárias para darem o seu contributo. E após terem ido em busca de novas soluções, muitos desejam voltar e aplicá-las.

Logo, podem ser a chave para o equilíbrio entre a globalização e a preservação da identidade, pois sabem quais são as necessidades da sua origem e podem contribuir para a sua resolução com novos conhecimentos. Logo, seria do interesse de qualquer região atrair esse tipo de investimento e facilitar a sua vinda num mercado livre. Não obstante, para se evitar os possíveis choques culturais e regular de forma eficaz o investimento em regiões como as ultraperiféricas, há que repensar a administração destas, nomeadamente, ao nível político administrativo. A vinda de novo investimento, em virtude da globalização, concederá às pessoas uma efetiva liberdade de escolha. Mas para a preservação de uma comunidade, as suas pessoas devem ter poder de decisão, o qual será concretizado através da regionalização e descentralização do poder de decisão. Isto porque se aproxima o centro de decisão e as estruturas públicas dos cidadãos, o que promove, entre outras coisas, um maior escrutínio do Estado e das decisões que tomam ao nível de despesa pública e celebração de parcerias com o setor privado. Escrutínio este que se torna essencial para se ter um setor público e infraestrutura adequado às preferências locais, o que é a primeira condição essencial de uma comunidade bem estruturada.

Por outro lado, estimulamos a participação de cidadãos que são eles próprios orientados também por uma educação de valores democráticos e que os liga ao contexto nacional e a vários cenários internacionais como o da União Europeia, o que também facilitará a discussão e o debate com os empreendedores que regressarem ou mesmo com quem venha de fora e queira investir. Pois além de encorajar um olhar mais atento sobre a corrupção nos órgãos públicos, a preocupação com os gastos públicos e a oportunidade de colher os benefícios da globalização levará a uma participação cada vez maior da parte dos cidadãos, sem descaírem na intolerância. Todas estas condições contribuem para a formação de um setor público

Podemos então concluir que a única forma de preservar a diversidade de identidades e comunidades, é entregando o poder de decisão às próprias pessoas que as compõem. E se queremos realmente que também elas alcancem o “ângulo de ascensão”, esta é a melhor forma de o fazermos.

Para o bem e para o mal, vivemos num mundo cada vez mais globalizado e interconectado. Os benefícios de mercados como o mercado interno europeu proporcionaram novas oportunidades de trabalho e negócio que elevaram milhares de milhões de pessoas da pobreza, quando, há 50 anos, estas estavam fadadas a chafurdar na miséria. Mas tal como o anjo de Robert Hayden, n…





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