Carlos Faria

Eleição de resultado agridoce

19 de Maio de 2025


Estava expectante com os resultados das últimas eleições legislativas, não só para perceber quem seria o vencedor ao nível nacional, mas sobretudo, para saber se voltaria a haver uma voz na Assembleia da República fora do centralismo regional dominado por São Miguel e Terceira, mais concretamente, a eleição de Nuna Menezes residente no Faial.

A começar pelo segundo ponto, congratulei-me, e muito, com a eleição de Nuna Menezes e o facto de o Faial voltar a ter uma voz no Parlamento Português. Argumento em defesa desta candidata que já há uma semana apresentara neste espaço.

Sei que a recém-eleita terá de defender todas as ilhas, mas o facto de ser de fora do círculo mais centralista da Região, deverá pesar na hierarquia das causas que abraçará, inclusive, das de uma terra como o Faial, onde reside e conhece bem os seus problemas. A sua formação também lhe permite argumentar e saber propor estratégias dentro do quadro legal para desbloquear as questões que dependem da República. Por isso, desejo-lhe boa sorte, pois, seguramente, encontrará muitos obstáculos nesta luta de defender as ilhas mais pequenas e, nem todos, instalados no Continente.

No que se refere aos resultados nacionais, confesso a minha aversão a extremismos, tanto de esquerda como de direita, pelo que o recuo do primeiro para o grande avanço do segundo não me deixa nada confortável, inclusive. Assim, além dos problemas de governabilidade por falta de uma maioria absoluta, a eventual passagem da liderança da oposição de um partido moderado para um extemista de direita, deixa-me um sabor agridoce e preocupado.

Já a questão que levou a eleições: o facto de o Primeiro-ministro ter uma empresa, confesso que, para mim, isso sempre foi um falso problema, pois não tenho preconceito para essa situação.

Sou do tempo dos governos de Mário Soares, quando o PS era ainda um partido marxista, mas em que a família do Primeiro-ministro possuía um colégio privado e isso nunca foi questionado e, inclusive, é conhecido o seu papel na expansão do ensino público e no reconhecimento da obrigação do Estado de assegurar o direito à educação.

Sou do tempo em que o Primeiro-ministro da AD, Pinto Balsemão, indicado para substituir o que fora eleito, Sá Carneiro, na já longínqua década de 1980, que era dono do maior semanário privado de Portugal, continuou a sê-lo e tal nunca levou a moções de desconfiança por essa matéria.

A existência de grandes empresários a presidirem poderes executivos públicos dependente de eleições, vai do topo da governação até ao poder autárquico. Todos se recordam que durante décadas Campo Maior era presidida pelo maior empregador do concelho e só se lhe tecem justas laudes pelo bem-fazer pela sua terra e suas gentes que eram os seus eleitores.

Assim, considero um preconceito ideológico a existência de incompatibilidade do exercício de cargo executivo resultante de eleições, direta ou indiretamente, e a propriedade de empresas, até porque este limita a liberdade de pessoas, que deram mostras de competência no mundo empresarial, poderem concorrer a tais funções, pela penalização de terem que se desfazer das suas empresas.

Este preconceito leva ao desinteresse de bons empresários para servirem a causa pública através da atividade política em Portugal, o que me parece conduzir à ocupação do vazio assim resultante por políticos profissionais, frequentemente saídos do setor público, onde estavam retidos sem bons rendimentos, sem visibilidade pública e talvez mesmo sem as vitudes desses quase excluídos.

Também, não tenho complexo em dizer que nestas situações importa compatibilizar a transparência com a privacidade dos negócios, para isso devem existir órgãos reguladores que não sejam, nem partidos nem órgãos de comunicação social, pois a guerra política e a concorrência nos media leva a uma devassa destrutiva como se viu este ano, mesmo que me tenha ficado dúvida na relação de Montenegro com os reguladores desta transparência, em que penso deveria ter agido diferente.

Apesar do sabor agridoce dos resultados nacionais, espero que o bom-senso impere entre os extremos para se melhorar, de facto, a qualidade de vida dos Portugueses, Açorianos e Faialenses.

Estava expectante com os resultados das últimas eleições legislativas, não só para perceber quem seria o vencedor ao nível nacional, mas sobretudo, para saber se voltaria a haver uma voz na Assembleia da República fora do centralismo regional dominado por São Miguel e Terceira, mais concretamente, a eleição de Nuna Menezes re…





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