1. Quando estudante em Lisboa, na já longínqua década de 1980, integrei um movimento de jovens ligado à Igreja e designado por: Movimento Católico de Estudantes. Então conotado com a ala de crentes progressistas e se este se movia no respeito das diretrizes da hierarquia do clero, também havia nele uma grande abertura à discussão de ideias, incluindo temáticas sociais.
Foi então que descobri a história do nascimento da designada “Doutrina Social da Igreja” que teve como principal impulsionador o Papa do século XIX de nome Leão XIII. Este revolucionou a forma do catolicismo institucional olhar a classe trabalhadora ao lançar a sua carta encíclica “Rerum Novarum” que li então com grande paixão e que em muitos aspetos ainda é atual.
Leão XIII pôs a Igreja a olhar seriamente para aquele novo grupo de pessoas que resultou da revolução industrial: os trabalhadores assalariados das fábricas industriais e das minas, muitas vezes saídos do campo para viver miseravelmente nas cidades e nas zonas mineiras. O Papa viu neles os novos pobres marginalizados daquela época, gente semelhante àquela amada por Cristo.
O Papa não teve problema em reconhecer os direitos desta classe, nomeadamente ao trabalho, ao salário justo, ao descanso e à organização sindical, entre outros. Assumo muito me influenciou a “Rerum Novarum”, este foi o documento que começou a moldar a minha consciência social e me despertou para a política, sem com isso me sentir fora da Igreja.
Foi a Rerum Novarum que levou a que, já em pleno século XX, vários cristãos, não se revendo no marxismo mas despertos para as causas sociais, desenvolvessem a democracia cristã, criando partidos não marxistas que procuravam defender os valores da Doutrina Social da Igreja. Infelizmente, com o tempo, parece-me que se afastaram da sua fonte e passaram a meros partidos conservadores e esquecendo a classe-alvo original.
Claro que com o tempo vários aspetos referidos por Leão XIII se desatualizaram, pelo que houve necessidade de surgirem vários outros documentos da Igreja para analisar os problemas à luz da realidade do século XX: “Quadragesimo Anno” por Pio XI, o Concílio Vaticano II refletiu a questão em “Gaudium et Spes”, Paulo VI produziu a “Populorum progressio” e João Paulo II “Centesimus annus”. Tudo documentos que li quando bem mais novo.
Assim, foi com grande alegria que vi que o Papa que saiu do conclave desta semana, Leão XIV, decidiu não renegar ao legado de Francisco, mas assumir retomar também o de Leão XIII. Espero que de facto a Igreja consiga agora olhar com mais força para os problemas e vícios do capitalismo global e ganancioso atual e seja capaz de lançar propostas para os políticos cristãos de hoje.
A economia do mundo deixou de estar imbuída de justiça social e de valores cristãos e sendo verdade que o mundo não volta atrás, espero que Leão XIV seja um farol de humanismo social cristão para a atualidade e aponte caminhos para a doutrina social da Igreja adequados a este tempo.
2. Estamos em período de campanha eleitoral para as legislativos nacionais e sabe-se que já há longas décadas nenhum partido consegue eleger nos Açores mais de 3 deputados para a Assembleia da República. Apesar disso, estranhamente, entre os maiores partidos açorianos, apenas a coligação PSD/CDS/PPM colocou um candidato Faialense em lugar elegível: Nuna Meneses.
Conheço a candidata desde criança, fomos colegas, sei da sua inteligência, competência, capacidade de trabalho e assisti, naturalmente, ao seu sucesso profissional. Acompanhei o modo como defendeu, dignamente, esta terra no Conselho de Ilha do Faial e por isto tudo já valia a pena ser eleita.
Contudo, há outro aspeto que não podemos esquecer: Nuna Meneses é mesmo a única candidata em condições de, diretamente, poder ser eleita pelo Faial nestas eleições para a Assembleia da República. Por isso, nesta ilha não se pode desperdiçar votos, há que os concentrar na única pessoa que pode, de facto, ir representar os Faialenses naquele Parlamento e se agora sentimos a falta de não ter uma voz do Faial na Assembleia da República para defender os interesses desta ilha perto do poder em Lisboa, não podemos desperdiçar esta oportunidade de pôr alguém ali a lutar pelo Faial.