Não é com entusiasmo que volto a imprimir, desta vez em formato digital, a minha opinião. Em tempos idos cheguei a fazê-lo de uma forma voluntariosa, impetuosa por vezes, mas infelizmente a determinada altura dei comigo a pensar que não valia a pena, não porque me considerasse um fazedor de opinião incompreendido, porque sempre tive a consciência de que não passava de um aprendiz nesse importante legado que a democracia nos trouxe: a liberdade de expressão. E assim sendo nunca havia almejado ser autor de qualquer causa efeito na sociedade que me rodeava.
Simplesmente cansei-me, tal como me cansei de votar. Bem sei que isto não são coisas de se dizer em público, bem sei que a liberdade de expressão deve ser algo que nunca nos deve cansar e que o voto livre foi uma conquista que muito custou a quem lutou por ele. Mas o que querem que vos diga, cansei-me! E quando assim é nada, nem ninguém, nos pode privar daquilo que também é intrinsecamente humano: a nossa vontade.
Neste caso a vontade de descansar, de deitar para trás das costas, de desligar, de olhar para o lado, enfim, sem qualquer traço de arrogância, de deixar andar. Este estado de distração induzida foi terrivelmente interrompido, pelo menos temporariamente - assim espero - pela leitura do artigo de opinião ontem publicado nesta mesma plataforma informativa por Miguel Machete.
Tal como na Alegoria da Caverna de Platão, Miguel Machete faz-nos sair da obscuridade para de uma forma teimosamente exaustiva nos mostrar a realidade nua e crua. Para nos mostrar como é sempre possível dar mais uma cavadela no fundo da fossa. Para nos mostrar como é possível por pura ignorância, incapacidade, ou até mesmo mera vaidade deixar um sector de grande importância para a economia dos Açores, como é o caso das pescas, à beira do abismo.
Em tempos ouvi um fazedor de opinião, num canal de cabo, esse sim um verdadeiro fazedor de opinião com cenário montado, e entrevistadora a preceito, falar do Princípio de Peter. Trata-se de um princípio que descreve a realidade das instituições, das estruturas e das sociedades, quando confrontadas com a promoção de determinados elementos e indivíduos a patamares para os quais não estão preparados - são incapazes de desempenhar as novas exigências com a competência necessária.
Infelizmente parece-me a mim, embora reconheça que possa estar afetado pelo Princípio de Peter, que os critérios que têm estado na origem de quem é escolhido para tomar conta da coisa pública têm tudo a ver menos com aquele critério que deveras devia contar: o mérito.
Chegados aqui para os que acreditam resta-nos rezar, para os outros deixar andar. Para mim as duas coisas.