Quando me criei – já passa das sete décadas – abrilhantávamos as festas do Espírito Santo comendo MASSA CEVADA. Indistintamente, também lhe chamávamos massa de leite.

Creio ser esta a tradição ancestral, remontada ao povoamento dos Açores. Não exclusiva do Faial, mas extensiva a outras ilhas, nomeadamente, Terceira e Flores. MASSA CEVADA, como ainda lembrarão todos aqueles da minha idade.

Massa cevada, e não massa de cevada. Estranho seria usar um cereal pobre, usado na alimentação dos animais, para confecionar alimento tão “nobre”, reservado a festividades.

O cultivo da cevada remontará aos primórdios da agricultura no arquipélago. Não consta, porém, que fizesse parte da dieta regular dos insulanos. Uma exceção. O viajante inglês Briant Barrett registou, em 1808, o uso da cevada como base da alimentação na Ilha Graciosa. Mais tarde, cerca de 1830, o padre Jerónimo Emiliano de Andrade confirma essa prática: Os povos graciosenses são diferentes dos outros açorianos no género e forma de sustento. São os únicos que usam o pão de cevada, e a sua diária vianda é milho cru trincado entre os dentes, e depois cozido com couves. Isto se entende só dos pobres, pois os ricos comem asseadamente.

Até prova em contrário, o nome da celebrada iguaria é MASSA CEVADA. Óbvia, naturalmente!

Quando as mulheres confecionavam o pão de trigo de cada dia, pelo Espírito Santo, CEVAVAM-no. Ou seja, engordavam ou enriqueciam a massa com leite – daí a expressão sinónima “massa de leite” – manteiga, açúcar (de cana), com uma pitada de noz-moscada. Considerando os recursos remontados ao início do povoamento, o leite, a manteiga e o açúcar eram os produtos disponíveis, de fabrico próprio ou local, para as donas de casa cevarem a massa de trigo – a noz-moscada chegava nos navios da Carreira da Índia.

A MASSA CEVADA é um hino gastronómico ao engenho das nossas avós. Identidade, tradição.

Sovar a massa!?