João Garcia

Uma ilha amarrada ao Cais

30 de Março de 2023


A Frente de Mar da Cidade da Horta tem aspetos positivos e negativos, como todos os projetos. Desde 2014 que este processo se move e cria sobressalto na comunidade, uns porque consideram que estamos perante o progresso e outros porque entendem, e bem, na minha opinião, que não podemos continuar a sacrificar o nosso património deliberadamente. 

A primeira questão que surge nesta análise é se esta obra era realmente necessária ou se esconde algo mais abrangente que tem as suas raízes num problema que cristalizou: a falta de planeamento. Embora tenha havido muito trabalho nesta área, com muitos recursos gastos, a verdade é que não foram postos em prática os Planos de Pormenor, como elementos orientadores para as políticas locais e para pensar a ilha do Faial de uma forma integrada, para as próximas décadas e gerações. 

Bom exemplo disso é o molhe norte do Porto da Horta, uma obra reveladora da falta de estratégia e visão para o futuro, demonstrando claramente como a ausência de planeamento tem efeitos negativos no desenvolvimento local. 

O Porto da Horta tem de estar na agenda política regional no imediato, tem de ser assumida a importância e a urgência na decisão, sendo conhecida a elegibilidade deste tipo de investimentos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. O atual Governo dos Açores prepara-se para ampliar, em 350 metros, o cais do Porto da Praia da Vitória, mas no Faial não pode continuar a olhar para trás, sem encontrar soluções ou, pelo menos, ter a coragem de as apresentar. 

Outro exemplo do que atrás refiro é o Parque de Invernagem de Embarcações que voltou à agenda política, sendo uma necessidade identificada há décadas e que já teve várias propostas, não fosse o Porto da Horta e a sua marina uma das mais movimentadas da Europa, paragem “obrigatória” para a maior parte das embarcações de recreio que atravessam o Atlântico.

Este é um projeto vital se pretendemos ser um Porto de recreio de excelência, se queremos explorar a mais-valia económica que esta potencia. A invernagem é paga e todos os trabalhos de manutenção podem dinamizar o comércio local. 

O mais recente anúncio da empreitada de realização de infraestruturas enterradas e vedação do terreno da antiga “Pedreira da Doca”, após o anúncio da inexistência de verbas por parte do Governo, antevê que este seja o passo para a sua materialização. Apesar de ser mais uma vez de forma faseada, esperemos que seja efetivamente concretizado, no mais curto espaço de tempo, atendendo à sua importância, que inclusive lhe valeu a inscrição no Plano Estratégico da Portos dos Açores.

A firmeza e a determinação não nos podem faltar, para que esta obra tenha o tamanho adequado às necessidades de um porto de recreio da nossa dimensão, não podendo esta de forma nenhuma ser mais uma pequena peça de um puzzle que encaixa, mas não funciona.

É para isso essencial que esta obra tenha lugar para um parqueamento de embarcações semelhante ao que está projetado para outras ilhas, sob pena de ficarmos de novo para trás. É essencial que se saiba colocar os investimentos corretos, nos lugares certos. Infelizmente não foi assim com o travelift e continua tudo na mesma. 

Não adianta falar em Cidade de Mar, quando o Porto da Horta é uma infraestrutura de remendos e onde continuamos há décadas a estudar soluções. Nem a inércia, nem a mudança de umas pedras de calçada, geram progresso, apenas tapam a realidade e satisfazem alguns. 

O motor de desenvolvimento da nossa ilha sempre foi o nosso Porto e pode continuar a ser, basta que as forças políticas se entendam, como fizeram na empreitada da frente de mar, um bom exemplo, apesar das vicissitudes que levaram a esse desfecho. Afastar a economia azul do Porto da Horta nada tem a ver com partidos políticos, tem a ver com a falta de coesão regional, com a falta de reivindicação e com a forma como os lóbis de duas ilhas dominam, centralizam e esvaziam esta ilha há décadas. 

Em todos os lugares, existem estudos, comissões e grupos de trabalho, o mesmo acontece aqui. Quando se trata de empatar, há opções para todos os gostos! Não foi suficiente o sismo de 1998? Devemos olhar para este evento como motivador da nossa capacidade de redefinir prioridades, de demonstrar a nossa resiliência e de como fomos capazes de deitar mãos à reconstrução da ilha, o que foi feito com sucesso, mas que teve consequências no nosso desenvolvimento social e económico.  

Sem soltarmos as amarras e sem mudanças significativas nas nossas prioridades, continuaremos nas empreitadas de cosmética, de remodelação do existente, obras estas que retiram mais do que acrescentam e que não nos retiram deste círculo vicioso, que parece interminável.

A Frente de Mar da Cidade da Horta tem aspetos positivos e negativos, como todos os projetos. Desde 2014 que este processo se move e cria sobressalto na comunidade, uns porque consideram que estamos perante o progresso e outros porque entendem, e bem, na minha opinião, que não podemos continuar a sacrificar o nosso património deliberadamente. 

A primeira quest&…





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