Correu para junto do seu querido “Estrelo”. Ainda recordava que quando partiu para a África se abraçara a ele chorando, desabafando os seus medos o que evitou fazer diante dos pais para não lhes aumentar a tristeza.
O veterinário chegou meia hora depois, o que para o José pareceu uma eternidade.
Após minuciosa observação do animal, medicou-o com os medicamentos que, já por cautela, trouxera consigo. E, de saída, disse-lhe: - Agora é uma questão de tempo e, se és católico, reza um pouco. Só então o José se recordou que, ao telefone, pronunciara a expressão “por amor de Deus”.
O José pediu à esposa para ficar junto do cavalo enquanto ia ver como corriam as coisas na lavoura, onde apenas se encontrava o pai e um trabalhador que contratara.
Passou o resto do dia junto do seu querido companheiro, e dispunha-se a passar toda a noite, se preciso fosse, apesar dos conselhos da mulher para que comesse qualquer coisa e descansasse, pois tudo estava nas mãos de Deus. Adormeceu, sim, de cansaço, mas no chão e encostado a um fardo de palha. Era já noite.
A certa altura sentiu um valente empurrão seguido de um alegre relinchar. Levantou-se sobressaltado, pois não sabia o que estava acontecendo. O que viu, porém deixou-o louco de alegria. O seu amigo estava de pé e sacudia alegremente a cabeça, como sempre fazia quando ele chegava ao palheiro. Por vezes até tinha dificuldades em colocar-lhe a cabeçada e tinha de fingir que ralhava com ele. Correu a chamar a sua Amélia para partilhar com ela a sua alegria.
Continuaram junto dele até terem a certeza de que estava realmente curado. Finalmente, ela convenceu-o a deitar-se, pois estava extenuado e no dia seguinte, logo pela manhã tinha de participar na ordenha.
Estavam sentados na cama encostados à taje. Ela de terço na mão, preparava-se para rezar. Ele, então, pediu-lhe: - Reza alto para eu te acompanhar. Mas ela não pronunciou uma única palavra. Olhou-a de soslaio e percebeu a razão do seu silêncio: chorava. Meigamente, tirou-lhe o terço da mão. - Pai nosso que estás nos Céus…
FIM