No fim de janeiro já se apagaram as luzes do Natal. Os amigos e as amigas reservam restaurantes com os holofotes virados para o Carnaval que vem aí.
Como janeiro ainda é o mês dos Reis, talvez valha a pena recuar um pouco para uma pequena reflexão sobre a exibição dos ranchos de Natal no Teatro Faialense.
Há muitos anos que se tornou habitual uma exibição de ranchos de Natal no fim das festas. Chegou a haver concurso mas o modelo adotado pela Câmara Municipal foi apenas o da exibição.
Já vi os tradicionais ranchos apresentarem-se ao público com decoração alusiva no palco. Lembro-me, por exemplo, de uma árvore de Natal, de uma mesa com figos passados e licores. Mas este ano, como noutros, impressionou-me a ausência de uma imagem do Menino Jesus.
Seria tão fácil e não custava dinheiro nenhum colocar, à boca de cena, um Menino Jesus que concentrasse a atenção de participantes e público no verdadeiro símbolo do Natal. Assim se manteria a tradição.
Um rancho de Natal não é apenas um grupo musical. É um conjunto de pessoas que se juntam, ensaiam e cantam, replicando a alegria dos primeiros pastores que foram adorar o Menino em Belém.
Com o passar do tempo vai-se perdendo o sentido da origem. Muito mérito têm aqueles que insistem em manter-se fiéis ao passado, à tradição.
Os da minha idade e mais velhos devem sentir saudades de ver, numa sala cheia, aprumada, uma tuna, como é da sua natureza, só com instrumentos de corda, incluindo uma viola da terra e uma voz forte e melodiosa a cantar à frente de um belo coro.
Quem não se lembra do pífaro do Avelino, soando estridente, a dar entrada ao rancho da Praia do Norte.
A exibição dos ranchos, incluída nas festas promovidas pela autarquia, tem outros aspetos que julgo merecedores de reflexão.
Quando se promove uma iniciativa pública não basta mudar-lhe a designação, para dar nas vistas, e copiar o que vem de trás. É preciso dar-lhe sentido. Incluir na exibição dos ranchos distribuição de prémios e sorteios comerciais, só para aproveitar o ajuntamento das pessoas, não cai bem.
Além de quebrar o ritmo do espetáculo, desvirtua o espírito que preside à organização e à atuação de um rancho de Natal.
Também não cai nada bem ouvir o apresentador recorrer aos seus habituais comentários despropositados e inoportunos.
No passado já vi ranchos de Natal, na ânsia da organização de promover a festa, a cantarem no Dia das Montras. Ou seja, a cantarem os louvores ao Menino Jesus antes do seu nascimento.
Bem bom enquanto ninguém se lembrar de pôr ranchos a cantarem ao Pai Natal.