Na passada semana a Câmara Municipal da Horta consignou duas empreitadas para a construção de habitações. Uma respeitante a um imóvel único na rua de Jesus, com 9 apartamentos e em pleno centro histórico da cidade. A outra, para 19 moradias na rua das Canadinhas, freguesia da Feteira.
Há dias referi aqui que esta era uma prioridade do atual Edil Faialense, cujo trabalho até ao momento tinha sido sobretudo de gabinete, mas esperava que as obras começassem, de facto, a surgir no terreno. Efetivamente, a consignação obriga a que a empresa, a curto-prazo, tenha de dar início à empreitada. Logo, tudo parece que vai no sentido desta perspetiva e objetivo político.
Não acredito que este tipo de empreitadas tenham um efeito significativo em atrair população do exterior para se fixar no Faial, já me congratulo se servirem para melhor segurarem os atuais residentes a permanecerem nesta ilha. Digo isto porque tenho reparado que as pessoas migram mais para onde existem melhores condições de emprego do que para onde há mais oferta de habitação.
A confirmar o que acima disse, está o facto de a migração da população rural para as cidades não se fazer por nestas haver mais habitações vazias. Os Portugueses continuam a sair da Província para as periferias das cidades, com condições habitacionais muito mais precárias que nas suas terras de interior, à procura de uma terra onde há maior diversidade de oferta de emprego.
Nos Açores esta situação também se observa. A grande maioria dos Faialenses que conheço que saíram desta ilha para outra, foi para trabalhar em Ponta Delgada ou em Angra do Heroísmo e não por falta de habitação no Faial. Isto para dizer que sou de opinião que para contrariar o despovoamento desta terra, importa acompanhar a construção de habitação com investimentos geradores de emprego duradouro. Daqui a importância do projeto Tecnopolo MARTEC, da criação de uma licenciatura no DOP e da aposta da ideia de criação do Observatório Europeu do Mar Profundo na Horta, para atrair investigadores, docentes universitários e funcionários europeus com poder de compra que dinamize aqui o comércio e atividades socioculturais e fixar gente nestas outras atividades profissionais rentáveis no Faial.
Não falei no parágrafo anterior do Turismo por este, por norma, distinguir-se daqueles empregos por utilizar muita mão-de-obra barata, sobretudo na hotelaria. Apesar de reconhecer o potencial de crescimento deste setor no Faial e onde o ordenamento do porto da Horta deve ser visto como uma peça estruturante em matéria de atividades marítimo-turísticas. Infelizmente parecem existir grandes incertezas sobre como intervir nesta infraestrutura portuária, a que não será alheia alguma falta de vontade exterior à ilha em investir nesta terra.
Falei de falta de vontade porque as democracias, com a ideia “uma pessoa um voto”, tenderem a privilegiar os centros urbanos maiores em prejuízo das cidades menores e do mundo rural. Para contrariar este vício de forma, a Catalunha tem uma sobre representação parlamentar da província em detrimento da de Barcelona, tal como os Açores tinha no passado para as sete ilhas com menos população, situação que foi reduzida com a criação do círculo eleitoral de compensação, mantendo-se a sobre representação mais significativa para o Corvo e vê-se bem como esta tem sido benéfica para aquela ilha e como o Faial enfraqueceu a sua voz desde então, situação agravada ainda com divisionismos alimentados oportunisticamente contra esta terra vindo de fora.
Falei deste último aspeto porque, há dias, ao ver uma cobertura fotográfica da obra da variante à Horta numa rede social, observei a enorme quantidade de comentários contra a obra provenientes de gente de ilhas maiores, muitas vezes irónicos e depreciativos contra a dimensão geográfica e populacional do Faial.
Sinto há muito tempo que o esvaziamento do Faial não é por falta de boa vontade dos políticos Faialenses, embora uns sejam mais corajosos do que outros, mas também porque forças eleitorais Regionais também não nos são favoráveis. Por tudo isto, o Faial está fragilizado na sua capacidade reivindicativa, temos de ter engenho, arte e união para sermos capazes de ultrapassar esta fragilidade, onde os interesses de fação locais nos enfraquecem ainda mais perante tantos outros.