Os clubes náuticos desempenham um papel essencial no desenvolvimento social, económico e desportivo das comunidades onde estão inseridos. Contudo, as infraestruturas e condições disponíveis muitas vezes não correspondem às exigências necessárias para que estas entidades cumpram plenamente a sua missão. O Clube Naval da Horta é um exemplo paradigmático desta realidade, destacando-se pela sua relevância histórica e cultural, mas também pelas evidentes carências ao nível das instalações e dos recursos.
Como instituições sem fins lucrativos, os clubes náuticos vão muito além de simples espaços para atividades recreativas. São motores de dinamização económica, capazes de atrair eventos, competições e visitantes que geram benefícios diretos para o turismo local e para a economia em geral. No caso do Clube Naval da Horta, situado num ponto estratégico para a navegação internacional, a sua importância como destino para velejadores e eventos náuticos é inegável. Todavia, as condições atuais limitam o seu potencial, impedindo a exploração plena das oportunidades económicas que poderiam beneficiar toda a região.
Adicionalmente, os clubes náuticos desempenham um papel crucial na promoção do desporto, especialmente nas modalidades relacionadas com o mar. Porém, a falta de condições adequadas – desde instalações condignas, seguras, espaços de formação e até equipamentos básicos – compromete a capacidade de clubes, como o da nossa ilha, em formar novos atletas e de incentivar os jovens a desenvolver uma ligação saudável com o mar. Sem instalações modernas e seguras, torna-se difícil competir com outros clubes mais bem equipados, que oferecem melhores condições.
Para além da dimensão económica e desportiva, os clubes náuticos assumem uma responsabilidade importante na preservação ambiental e na sensibilização para a sustentabilidade. A sua ligação ao mar impõe um compromisso natural com a proteção dos ecossistemas marinhos e a educação das comunidades locais para a sua conservação. O Clube Naval da Horta, situado no coração do Atlântico, poderia ser uma referência de excelência nesta área. No entanto, as infraestruturas obsoletas e os recursos insuficientes dificultam a realização de iniciativas que tenham impacto significativo.
A situação do Clube Naval da Horta evidencia a necessidade urgente de repensar os modelos de apoio e financiamento a estas instituições. Não podem ser vistas apenas como concessionárias de espaços portuários ou simples prestadoras de serviços. A sua missão transcende estas funções, promovendo a coesão social, o desenvolvimento desportivo, a preservação do património cultural e o incentivo ao turismo sustentável. Ignorar estas valências é negligenciar um recurso estratégico essencial para o bem-estar das comunidades locais e para o desenvolvimento regional.
É fundamental que as entidades públicas reconheçam a urgência de investir na modernização e na manutenção dos clubes náuticos, especialmente daqueles que, como o Clube Naval da Horta, enfrentam desafios estruturais há muitas décadas.. O mar faz parte da identidade coletiva dos Açores e os clubes náuticos são guardiões dessa ligação histórica. É responsabilidade de todos garantir que estas instituições dispõem dos meios necessários para cumprir a sua missão.
Contudo, a inação das entidades responsáveis é evidente e preocupante. O silêncio da Assembleia Municipal, da Câmara Municipal da Horta e do Conselho de Ilha na defesa do único clube náutico do seu concelho é difícil de compreender. Da mesma forma, a forma como as Senhoras e Senhores Deputados lidam com as petições dos cidadãos, deixando-as sem o devido acompanhamento após a discussão, revela uma postura desatenta às legítimas preocupações da população. Quanto ao Governo Regional dos Açores e à empresa Porto dos Açores, a falta de compromisso é inaceitável. Repetidamente, têm ignorado o problema e adiado as soluções prometidas, deixando o Clube Naval da Horta à mercê de remendos temporários e planos não concretizados. Exige-se uma nova postura, assente no respeito pelas promessas feitas e na ação concreta, capaz de solucionar de forma definitiva este problema que se arrasta de forma transversal.
Perante esta situação, torna-se evidente que medidas urgentes e firmes são necessárias. Como já foi defendido, por mim, em Assembleia Geral do Clube, a suspensão de todas as atividades por tempo indeterminado, até estar garantido um acesso à água seguro, espaços de armazenamento dignos e uma sede capaz de responder aos desafios, poderá ser a única forma de fazer o Governo Regional, a Porto dos Açores e a Câmara Municipal compreenderem a gravidade do problema. É chegada a hora de agir com determinação para garantir a sobrevivência e o futuro desta instituição, que tanto contribui para o desenvolvimento e identidade da região.