António Freitas

Controvérsia entre APADIF e Governo

13 de Novembro de 2024


Nos últimos dias, fomos testemunhas de uma lamentável controvérsia pública desencadeada pela Presidente da APADIF, Leónia Melo, representante de uma importante IPSS da ilha do Faial e o Vice-Presidente do Governo dos Açores, Artur Lima. É chocante ver como acusações infundadas, falácias e joguinhos políticos facilmente ganham força na opinião pública quando amplificadas pelas redes sociais e até pela imprensa, sem o devido rigor jornalístico.

A primeira grande falha desta situação foi a cobertura parcial da RTP Açores, que veiculou as declarações da Presidente da APADIF sem ouvir ou dar a mínima oportunidade de defesa ao outro lado envolvido. O jornalismo tem uma responsabilidade social e ética: garantir que as suas notícias sejam imparciais e fundamentadas. No entanto, a comunicação social falhou em cumprir este dever ao negligenciar o direito ao contraditório. Este comportamento não só desinforma, como inflama a opinião pública e fragiliza a confiança no serviço público de informação, que deveria zelar pela neutralidade e pelo rigor.

Em segundo lugar, convém lembrar que o Vice-Presidente do Governo tem, no seu mandato, investido trabalho e recursos no apoio a diversas associações e instituições sociais, incluindo a própria APADIF. Ao longo dos anos, foram estabelecidos múltiplos contratos de cooperação, promovidas reuniões e criadas condições para que essa e outras entidades pudessem melhor servir a população. O Vice-Presidente, enquanto teve responsabilidades pela área social, ofereceu à APADIF uma solução de grande benefício à mesma: a utilização de uma parte do edifício público – o antigo Centro de Saúde – para centralizar as suas valências e respetivas atividades e, assim, reduzir custos e melhorar as condições de trabalho e atendimento. Esse esforço é um testemunho de compromisso com o bem-estar da comunidade e, mais ainda, de boa gestão e espírito de cooperação.

Ao invés de um agradecimento ou uma postura de diálogo, recebemos da APADIF um conjunto de declarações de teor alarmista, que colocam em causa a integridade de quem sempre trabalhou para apoiar a instituição. Este é um exemplo claro do que pode ocorrer quando, por razões pouco claras ou por incompreensões, se decide acusar e atacar sem qualquer fundamento. Tais declarações são ainda mais lamentáveis, porque em nenhum momento houve da parte da APADIF uma comunicação formal que abrisse espaço para o esclarecimento de dúvidas ou divergências. É incompreensível que se opte pelo confronto público em vez de se resolver internamente uma situação onde a disponibilidade do Governo sempre foi inequívoca.

É também necessário abordar o papel dos chamados "comentadores de Facebook” nesta situação. São aqueles que, das sombras do ecrã, sem conhecimento, sem factos e sem compromisso, não hesitam em lançar julgamentos infundados e em fomentar um clima de ódio e divisão. Estas são pessoas que se escondem atrás de um teclado, muitas vezes ignorando o velho ditado popular que nos ensina: "um burro calado passa por discreto". Infelizmente, hoje parece haver uma sede de julgamento contra os políticos, como se fossem os únicos responsáveis pelos problemas da sociedade. Esquecem-se estes críticos de que a responsabilidade pela construção de uma comunidade melhor recai sobre todos nós – desde os políticos, aos líderes de instituições, aos próprios cidadãos. E enquanto uns se desdobram em críticas vazias e ataques pessoais, outros dedicam-se ao trabalho diário, de modo sério e comprometido.

Se a sociedade exige tanto dos seus políticos - como bem deve exigir – é igualmente imperativo que se aplique esse mesmo rigor aos dirigentes das instituições e associações. Estes também têm um papel fundamental e são responsáveis por garantir que os interesses da comunidade prevalecem sobre interesses pessoais ou políticos. E, ao falharem em representar fielmente a verdade e em adotar uma conduta ética, essas figuras públicas contribuem negativamente para a construção de uma sociedade mais justa e coesa. Falta-lhes a moderação, a seriedade e a clareza de objetivos que deveriam nortear o trabalho de quem, como eles, também carrega a missão de servir o público.

Neste caso, a postura do Vice-Presidente ao vir a público esclarecer os factos e defender a sua integridade é mais do que justa. Afinal, o que está em causa não é apenas a sua honra, mas também o trabalho desenvolvido em prol dos açorianos, que não deve ser ofuscado por ataques infundados. Devemos, como sociedade, recusar-nos a aceitar declarações levianas ou acusações vazias como verdades absolutas. A verdade precisa de ser baseada em factos, e é essencial que todos nós – cidadãos, governantes e líderes de instituições – possamos distinguir o que é fundamentado do que é especulação.

Fica também uma palavra para a comunicação social: com grandes responsabilidades vêm grandes exigências. Se queremos que os políticos e dirigentes cumpram os seus deveres com seriedade, a imprensa também tem o dever de informar com precisão e imparcialidade. O episódio que envolveu a RTP Açores neste caso é um lembrete claro da necessidade de um jornalismo responsável, que promova a informação verdadeira e completa, ao invés de sensacionalismos. Claro que há jornalistas competentes e rigorosos, mas, infelizmente, aqueles que falham o seu dever parecem passar sem consequência. E o resultado é uma sociedade que, ao invés de se basear na verdade e no diálogo, se deixa manipular por uma visão incompleta e muitas vezes injusta da realidade.

Precisamos de respeito mútuo, seriedade, e um esforço coletivo para construir uma sociedade justa. Encontremos a verdade pelo caminho do discernimento, e o discernimento pelo caminho da verdade.

Nos últimos dias, fomos testemunhas de uma lamentável controvérsia pública desencadeada pela Presidente da APADIF, Leónia Melo, representante de uma importante IPSS da ilha do Faial e o Vice-Presidente do Governo dos Açores, Artur Lima. É chocante ver como acusações infundadas, falácias e joguinhos políticos facilmente…





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