A Câmara Municipal da Horta divulgou, na semana passada, um comunicado sobre o problema da habitação no Faial.
Essa nota dava conta de uma visita do senhor presidente da Câmara à secretaria de Estado com o respetivo pelouro. Dizia que Carlos Ferreira se tinha deslocado a Lisboa para protestar pelo atraso na formalização de contratos com o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) e consequente transferência de verbas.
O mais importante era saber se houve resposta da secretaria de Estado, qual foi ou até, simplesmente, se não houve resposta. Pouco interessa aos munícipes do concelho da Horta ficarem a saber se o seu presidente foi a Lisboa ou a outro lugar qualquer.
Através da nota da Câmara ninguém ficou informado de nada pela simples razão de que era completamente omissa. Quem a leu, como eu, deduziu naturalmente que a reunião não tinha adiantado nada. E efetivamente não adiantou.
Ontem vejo, a abrir o Telejornal da RTP Açores, o mesmo presidente da Câmara a declarar que “o único compromisso obtido do Governo da República foi o de insistir também junto do IHRU para que as respostas possam acontecer o mais rapidamente possível”.
Afinal havia uma resposta da secretaria de Estado da Habitação que a Câmara omitiu propositadamente na nota a que me estou a referir, e que o presidente sentiu necessidade de referenciar nas suas declarações, correndo atrás do prejuízo, tentando evitar o descrédito.
A nota e as declarações de Carlos Ferreira na RTP têm um propósito óbvio. O de começar a preparar o eleitorado para quando, no próximo ano chegarem as eleições, os eleitores já estarem convencidos de que a Câmara não construiu casa nenhuma, por culpa do Governo da República, desse tal IHRU e nunca por culpa própria.
Feita esta breve apreciação apenas sobre uma nota da Câmara, pois muitas outras merecem igual observação, ainda há outro aspeto que me deixa inquieto. Por que razão o senhor presidente Carlos Ferreira privilegia uns órgãos de comunicação social em detrimento de outros? Se a notícia sai completa na RTP não pode sair completa também nos outros?
Fica por contar quem levou Carlos Ferreira a dar a informação completa à RTP.
Não quero todavia terminar sem levantar outra questão mais importante.
Em face do que agora é conhecido parece-me que o presidente, na sua deslocação a Lisboa, não escolheu o anfitrião certo.
Pois se o Governo tomou conhecimento do assunto e apenas adiantou que ia insistir junto do Instituto que tutela, é porque não tem autoridade para resolvê-lo.
Pior. Se tem autoridade e competência para dar ordens ao IHRU, então, ao chutar para canto, desconsiderou a presença do seu interlocutor.
Mas então, se quem pode resolver o problema da Câmara da Horta é o IHRU, por que é que Carlos Ferreira foi à secretaria de Estado? Devia ter ido diretamente ao próprio Instituto. Talvez acalentasse a esperança de tirar uma fotografia com o ministro para depois publicá-la no Facebook.
Reflito sobre isto porque o episódio revela uma motivação mais profunda.
Enquanto os políticos não quiserem assumir uma atitude diferente dificilmente continuarão a ter a confiança do povo. O que está sempre em primeiro lugar é a promoção da própria imagem, das próprias iniciativas, a propaganda e o objetivo eleitoral. Informar os cidadãos, é outra coisa. Não interessa, que é para ver se eles não acordam.
No caso em apreço é bom que se saiba que o presidente da Câmara, movido pela sua dedicação e sentido de responsabilidade, foi a Lisboa tratar da nossa vida. Os resultados da viajem, se vierem a prejudicar a manutenção no poder, é melhor que não se saiba.