É inegável que o Faial tem sido sistematicamente prejudicado no que diz respeito às acessibilidades aéreas, e infelizmente esta situação parece destinada a continuar. Os voos são programados com pouca antecedência, sem promoção devida ou planeamento adequado, beneficiando apenas quem faz contas convenientes. Esta situação arrasta-se há vários anos, mas o mais inquietante é a persistência em não se priorizar a defesa da nossa terra. Quando se está na oposição, criticam-se todas as falhas; ao chegar ao Governo, o discurso tende a amenizar o que antes era uma evidência absoluta.
O Grupo SATA não promove o Faial, nem o Governo Regional dos Açores o faz, nem o querem fazer, a direção tomada, é a de privilegiar as duas maiores ilhas, e infelizmente não é só nas acessibilidades.
Criou-se a expectativa de que, com o PSD e o CDS na Câmara Municipal da Horta e no Governo Regional, todos os problemas fossem resolvidos magicamente, e que a culpa iria residir e perpetuar-se exclusivamente nos Governos do PS. Embora estes últimos tenham a sua quota parte de responsabilidade, os faialenses não podem ignorar que, desde a mudança política, a situação não só não melhorou, como até se agravou.
O exemplo do último verão IATA é claro: menos um voo semanal para Lisboa, passamos de 10 para 9 voos, promessas incumpridas de 14 voos semanais, e o cenário habitual de cancelamentos, atrasos e bagagens extraviadas, afetando os faialenses e prejudicando a nossa imagem. Esta situação é, no mínimo, inaceitável. Os novos aviões A320Neo, supostamente adquiridos para operar nas rotas do Faial e do Pico, nunca foram vistos por cá - algo que dificilmente se poderia esperar - não fossem as aberturas de rotas que devem ser tremendamente lucrativas.
A situação piorou com o encerramento da loja da SATA, uma medida que, no passado, foi fortemente criticada quando aconteceu com a loja da TAP. Agora, porém, os mesmos críticos permanecem em silêncio. Onde está a coerência e a indignação que se manifestavam tão facilmente na oposição da altura? O Governo Regional ignorou a Câmara Municipal da Horta, alegando que não interfere na gestão das empresas públicas, mas quando se trata de programar novas rotas para São Miguel e Terceira, não hesita em envolver vários membros do Governo nas conversas com o Conselho de Administração e até fazer anúncios partidários dessas conquistas. É claro e evidente onde estão os verdadeiros interesses que representam, sabendo-se da divisão geográfica da composição do Governo.
E, enquanto isso, a AZORES AIRLINES, continua na linha da privatização (mais um processo condenado ao fracasso, a julgar pelo histórico), mas apesar disso continua a reforçar as suas rotas, que não importa se são rentáveis ou não, mas apenas para Ponta Delgada e Terceira. O Faial, evidentemente, fica de fora.
É neste ponto que temos de ser críticos, o faialense, tem de abrir os olhos definitivamente e pedir responsabilidades a quem nos representa. Chegou a hora de perceber que os partidos e as pessoas que estão agora a ocupar cargos de destaque na Assembleia, no Governo ou na Câmara Municipal não fazem ou também não podem fazer diferente — a receita é a mesma. Onde estão os deputados e os nossos representantes que, antes de chegarem ao poder, bradavam pela defesa dos interesses do Faial?
A velha desculpa das rotas deficitárias e da baixa ocupação nunca foi mais do que uma narrativa construída para justificar a redução de voos no Aeroporto da Horta. O mais grave é que este discurso, que outrora serviu para criticar governos anteriores, continua a ser utilizada para manter o Faial numa posição secundária, e nós, de forma passiva, continuamos a aceitá-la, conforme as nossas preferências políticas e hoje há uma nova forma de tentar contornar as questões, mas que não passa de demagogismo e de egocentrismo de alguns.
O que está em causa aqui não é o turismo, é a nossa mobilidade e capacidade de gerar economia — é o nosso direito, enquanto açorianos, de sermos tratados de forma igual. Esta longa história não tem heróis nem santos, apenas políticos que canalizaram a indignação do povo faialense para vencer eleições e, agora no poder, deixaram cair as promessas feitas. O resultado? Uma situação que, longe de melhorar, se deteriorou consideravelmente.
Resta-nos também aguardar o que o novo Governo da República dirá sobre o tão necessário aumento da pista do Aeroporto da Horta, pois temo que também aqui teremos uma surpresa para alguns e uma confirmação para outros.