A nossa ilha é conhecida pela sua beleza natural, pelo seu património e pela sua história náutica. Contudo, para garantir um futuro próspero e sustentável, é imperativo captar investimentos que não só promovam o desenvolvimento económico, mas também combatam a sazonalidade. Este é um desafio significativo que deverá impelir as entidades públicas a colaborar com a sociedade civil na construção de um Plano Estratégico que responda com eficácia aos desafios dos próximos anos, promovendo o desenvolvimento e o bem-estar dos Faialenses nas próximas décadas.
A sustentabilidade deve estar no centro de qualquer estratégia de desenvolvimento para o Faial. A ilha possui ecossistemas únicos, que não só atraem turistas, mas também desempenham um papel crucial no equilíbrio ambiental. Atualmente, apenas 10% da energia fornecida na ilha tem origem em fontes renováveis, nomeadamente do Parque Eólico do Salão, estamos, portanto, 90% dependentes de combustíveis fósseis. Isto representa uma oportunidade para atrair investimento na área das energias renováveis, gerando empregos especializados. Além disso, a implementação de mais medidas de gestão de resíduos, conservação e captação de água, como a criação de mais lagoas artificiais, é uma forma de preservar os recursos naturais e de garantir que o crescimento económico, não fica dependente do meio ambiente.
A sazonalidade é um dos maiores desafios enfrentamos no Faial. Durante os meses de verão, a ilha vê um aumento significativo de visitantes, mas nos meses de inverno, o fluxo turístico diminui drasticamente, afetando negativamente a economia local. Para combater este problema, é necessário diversificar a oferta turística e atrair visitantes durante todo o ano.
Uma abordagem eficaz será a promoção de eventos culturais e desportivos fora da época alta. O Faial possui uma rica herança patrimonial e cultural que deve ser explorada. O nosso património encontra-se ao abandono; no entanto, para atingir este objetivo, é necessário planear a sua recuperação e colocá-lo à disposição dos visitantes através de roteiros temáticos. É importante retomar os roteiros históricos, como o Roteiro de Duque D`Ávila e Bolama ou o Roteiro dos Dabney, atualmente abandonados e criar outros que podem enriquecer a oferta na época baixa.
Outra oportunidade reside no turismo de negócios. O Faial necessita de criar um espaço ou de melhorar infraestruturas que permitam posicionar a nossa ilha como um destino para conferências e encontros empresariais. Esta estratégia não só aumentaria a ocupação hoteleira durante todo o ano, mas também atrairia visitantes com maior poder de compra, beneficiando diretamente o comércio local.
Para atrair investimento, não podemos apenas criar Gabinetes de Apoio aos Empresários; é essencial criar um ambiente favorável para os investidores. Isto inclui a simplificação de processos burocráticos, oferecendo incentivos fiscais e garantindo a disponibilidade de infraestruturas modernas sobretudo apoiar quem quer investir a ultrapassar as exigências, muitas delas absurdas e que levam muitos empresários a desistir.
O tecido empresarial do Faial é muito frágil. No entanto, aplica-se no concelho da Horta a Derrama sobre os lucros das pequenas empresas, um imposto injusto e que nos equipara a apenas em alguns concelhos dos Açores. Nos restantes, este imposto é mais baixo ou simplesmente não se aplica, o que se traduz numa vantagem na hora de escolher onde investir. Por exemplo, no Pico e em São Jorge este imposto não existe.
É necessário captar investimento produtivo e gerar condições para a diversificação. A economia do Faial não pode depender exclusivamente do turismo, considerando sua volatilidade. É fundamental criar alternativas para o desenvolvimento económico sustentável na ilha.
Devemos explorar áreas como a Economia Azul, apesar de hoje ainda ser um chavão, porque na realidade ela não existe. Por exemplo a aquacultura nos Açores terá de ser feita em grande escala, tem custos enormes e não sobrevive sem os apoios comunitários. É por isso que devemos considerar a instalação de um grande centro de reparação de barcos e invernagem no Atlântico Norte, criando saídas para os cursos de construção naval e outros ministrados pela Escola do Mar. Devemos apostar na criação de produtos locais com base na nossa produção interna e criar incentivos à exportação para outras ilhas, estimulando o mercado interno. Antes de exportar para fora do país, é crucial investir no mercado inter-ilhas, incentivando e apoiando-o com melhores transportes.
O envolvimento e a auscultação dos agentes económicos são fundamentais para delinear um Plano Estratégico eficaz para as próximas décadas, que permita gerar emprego, combater a sazonalidade e, sobretudo, promover a diversificação e fixar os nossos jovens na nossa terra. A participação ativa da comunidade local é crucial para o sucesso de qualquer iniciativa de desenvolvimento.
É essencial ouvir os empresários locais e compreender as suas dificuldades. Concordamos que programas de formação e capacitação podem preparar os residentes para novas oportunidades de emprego, garantindo que os benefícios do investimento sejam amplamente distribuídos. No entanto, antes de mais, precisamos conhecer a realidade e os desafios enfrentados pelos nossos agricultores, floricultores, apicultores e horticultores. Devemos também considerar toda a cadeia da pesca como uma mais-valia para a nossa terra, onde a fileira do atum que desempenhou um papel muito relevante nesta ilha foi-se aos poucos desviando para outros caminhos. A falta de visão levou a que fosse construído um entreposto frigorifico para 600 toneladas, quando o entreposto do Pico ficou com mais de 2000 toneladas, sem que se conheça a razão para que o Faial tenha diminuindo a sua capacidade e o propósito do mesmo.
Somente dessa forma poderemos criar um Plano Estratégico robusto e orientar adequadamente os futuros investimentos. Atualmente, a nossa economia é predominantemente baseada em serviços, que dependem de terceiros para funcionar, e o comércio tradicional é gradualmente substituído por pequenos negócios dedicados aos serviços.
Captar investimento e criar um planeamento a vários anos é essencial para acautelar o nosso futuro. Ao focar em práticas sustentáveis e combater a sazonalidade, a ilha pode não só preservar a sua rica herança natural e cultural, mas também criar uma economia resiliente e diversificada. Com uma abordagem estratégica e colaborativa, o Faial pode tornar-se um exemplo de desenvolvimento, atraindo visitantes e investidores durante todo o ano e garantindo uma qualidade de vida elevada aos seus habitantes.