- Conseguiste o endereço, perguntou o Inspector.
- Não, respondeu o agente. Pela simples razão que ele não se dirigiu a casa. A não ser que ele resida no solar dos Castanheiras que foi onde ele entrou.
Passada a surpresa o inspector perguntou: - Mas isso não é a residência da família do advogado dr. Jorge?
- É sim! - respondeu o adjunto que seguira o suspeito.
Após alguns minutos de absoluto silêncio, em que quer o inspector, quer cada um dos dois adjuntos, pensavam uma solução para o problema, o Inspector acabou por sugerir: - Vamos contactar o advogado dr. Jorge, mas particularmente, a fim de evitar situações embaraçosas e, acredito, desnecessárias.
Estabelecido o contacto e acertada a hora do encontro que aconteceria no escritório do advogado, a fim de evitar possíveis especulações, o Inspector colocou-o a par dos últimos acontecimentos incluindo a visita que o suspeito fizera a sua casa.
Respondeu o advogado que efectivamente essa visita aconteceu e até foi durante ela que, embora contrariando a vontade dos pais, exigiu que ele suspendesse as visitas. Ele possuía a parva pretensão de casar com a irmã e, infelizmente, gozou durante algum tempo das preferências dos meus pais. Razão que o levou a assumir uma decisão tão drástica.
Considerou o Inspector que acabava de ser revelado o verdadeiro móbil do crime e que urgia a sua imediata detenção que seria acompanhada de um mandato do Juiz para lhe revistarem a casa. Dada a natureza criminosa do suspeito, não era despiciendo que a vida dos familiares estivesse em risco.
Reunidos todos estes elementos foram à presença do Promotor do Ministério Público, que considerou não só justificada como urgente a detenção do suspeito, mas que fossem munidos do mandato do Juiz – que ele se encarregaria de obter - para as buscas na casa e a detenção serem simultâneas.
Conseguido o mandato do Juiz - que no entanto não evitou recomendar que uma próxima audiência só seria concretizada perante provas consistentes - colocaram a casa do suspeito sob discreta vigilância, aguardando a sua chegada. Ele chegou perto das vinte horas. Declararam-no como suspeito do assassinato do cauteleiro e algemaram-no enquanto lhe citavam os direitos. Depois exibiram o mandato e entraram com ele em casa.
Estranhamente, ele não exibiu qualquer resistência nem tampouco grandes protestos. Durante as buscas viram na secretária cartas de diversos fornecedores ameaçando-o com processos judiciais e até anúncios de execuções fiscais, de montantes consideráveis. Também encontraram diversas cautelas de lotaria. No chão viam-se marcas decerto provocadas por móveis que, entretanto foram vendidos ou os fornecedores foram recuperá-los por falta de pagamento. Tudo apontava para uma situação desesperada que o levara a cometer o crime. Mas a principal descoberta foi um pequeno punhal que ele decerto utilizara no crime. Mas isso o médico legista não teria dificuldade em demonstrar.