Na semana passada assisti a um episódio que nunca antes tinha sequer imaginado pudesse vir a acontecer. Foi notícia a morte de toiros na Terceira em consequência de uma tourada à corda na Agualva. Tratou-se de uma situação extraordinária, cujas causas desconheço. Acredito sinceramente que nenhum ganadero deseja este desfecho para os seus animais. Tão pouco os que gostam da festa desejam assistir ao que aconteceu. Mas isto é óbvio. Agora, ver o deputado Pedro Neves, em representação do PAN, apresentar ao plenário um Voto de Pesar pelos toiros que, e ele fez questão de vincar, “faleceram”, e não, “morreram”, é, como se dizia no tempo da guerra do ultramar, o fim da picada. Pedro Neves disse que os toiros faleceram e eu fiz notar esse pormenor, não vão os familiares dos falecidos, ainda de luto, sentirem-se chocados. Aproveito para felicitar os deputados que votaram contra, argumentando consistente e definitivamente. Apresentar um voto de pesar pela morte de animais é o maior insulto que já vi fazer à memória das pessoas que são, naquela casa, objeto do mesmo tratamento. A propósito lembrei-me de contar uma história, porque isto só pode ser tratado no âmbito da brincadeira. Outro dia, ao sair da Redação do INCENTIVO, deparei-me com uma pomba morta no caminho, revelando sinais de ter sido esmagada por um veículo. Penitencio-me por não ter informado um dos nossos deputados do Faial para que pudesse apresentar também, no Parlamento, um voto de pesar pelo falecimento de uma pomba, nossa vizinha e frequentadora assídua da Praça da República. Caiu a máscara ao PAN e ao Bloco de Esquerda, o único partido que acompanhou Pedro Neves na votação. O PAN foi criado com a designação Partido dos Animais. Depois evoluiu para Pessoas, Animais e Natureza. Ora, sem querer, afundou-se, pelo menos no plano dos princípios. Um partido político não precisa de ostentar a designação de Pessoas na sua sigla. Os partidos só existem para as pessoas, não é verdade? Foi talvez o sinal da consciência pesada dos fundadores e da luta pela sobrevivência dos novos dirigentes. Sei que vivemos em democracia e liberdade e reconheço o pleno direito de opção a quem vota no PAN. Mas, francamente, considero que não somos obrigados a aceitar tudo. Só faltou a Pedro Neves terminar a leitura do voto com o epitáfio: “Paz às suas almas”.