Não sou botânica nem muito menos especialista em combater plantas invasoras. Sou açoriana por nascimento, já fui emigrante e regressante, e neste momento, apenas e só, uma turista que passou pela ilha do Faial. Nesta ilha, passei três anos da minha juventude que deixaram recordações e a lembrança de como era a paisagem faialense há 55 anos.
Nestes casos, em que a imaginação sempre acrescenta qualquer coisa, mais do que aquilo que deveras recordamos do real, a verdade é que ela não pode ser a desculpa para se olhar e não ver o que de novo a paisagem tem.
Entre arvoredo formado por cedros do mato (Zimbro-Siaram), faias (Faia Morella faya, pau branco (Picconia azorica), de entre muitas outras endémicas das ilhas da Macaronésia, passeei pela ilha do Faial na apreciação e fruição de uma natureza que teima em manter-se multi-verdejante e tenazmente resistente, apesar de todas as intempéries que assolam as ilhas dos Açores e, principalmente, da grande proliferação de plantas invasoras que ameaçam fortemente a preservação do belíssimo arvoredo que o Faial possui, graças ao seu Plano Florestal.
A Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente, pela Direção Regional dos Recursos Florestais, do Governo dos Açores, publicou, em Julho de 2014, a Estratégia Florestal dos Açores, iniciando a sua Introdução, com a seguinte afirmação:
“A floresta constitui um elemento marcante e estruturante da paisagem açoriana, ocupando cerca de um terço do território terrestre insular da Região Autónoma dos Açores. Para além desta marca de identidade, é unanimemente reconhecido que o sector florestal local tem uma importância económica considerável e um potencial de expansão enorme, devendo assumir nestas ilhas, onde é vital estabelecer compromissos duradouros entre a exploração e a preservação dos recursos, um papel determinante no ordenamento do território.”
Nos Açores existem diferentes projetos de execução de proteção da Orla Costeira, em diversas ilhas, e o Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasoras em Áreas Sensíveis, (PRECEFIAS), da Direção Regional do Ambiente, previa as datas entre 2003 e 2008 para a sua realização, podendo ler-se no seu enquadramento:
“A flora natural dos Açores pode ser considerada como um “fóssil vivo”. Em tempos, dominante no Sul da Europa e Norte de África, desapareceu, parcialmente, devido às últimas glaciações. Actualmente, esta flora encontra-se ameaçada devido a vários factores, sendo um dos mais importantes, a invasão pelas espécies exóticas.”
Viajar, à volta da ilha do Faial, é constatar que uma coisa são as palavras e os estudos feitos e publicados, e outra, o facto de grande parte das suas matas estarem seriamente ameaçadas, em especial pelas seguintes espécies invasoras: trepadeira Bons Dias (Ipomea); lantana camara (silvado do inferno), e conteira, roca-davelha, jarroca, (Hedychium gardnerianum).
Neste contexto, e tendo por base os seus estudos, a investigadora Lurdes Silva afirmava e questionava, em entrevista à jornalista Carlota Pimentel, em 2022, publicada no jornal Correio dos Açores: “Não vemos que as plantas invasoras sejam controladas e monitorizadas nos Açores” (…) O que foi feito pelos últimos governos regionais, relativamente à ameaça das plantas invasoras?”
Ora, a Região Autónoma dos Açores tem, como referimos, um Plano de Erradicação de Plantas Invasoras onde se encontra prescrito quais os procedimentos necessários para a defesa dos seus recursos florestais. No entanto, esses processos parecem não ter sido efetivos. Na realidade, não vemos que as plantas invasoras estejam a ser controladas e monitorizadas. Pode haver uma tentativa de colocar os procedimentos recomendados em prática, mas, parece não ser fácil. Será que a própria legislação, muitas vezes, seja um fator impeditivo? É que, a olho nú, pouco tem sido feito para se passar das palavras à ação. Aliás a viagem da Horta para os Cedros é bem o exemplo do que afirmámos. A trepadeira Bons Dias está de tal modo espalhada que em alguns lugares as copas das árvores encontram-se cobertas de azul roxo, cor específica das flores dessa planta.
Daqui lançamos o alerta perguntando: será que no Faial ainda se vai a tempo de erradicar a Bons Dias? É que se por um lado a paisagem fica lindíssima com o azul-arroxeado das suas flores, a realidade é que a Bons Dias, ao trepar às copas da vegetação endémica como faias, pau branco e o cedro do mato, espécies legalmente protegidas, provoca a asfixia das mesmas levando-as a um perigo eminente, a morte.
Na apresentação do projecto Guia do Educador Pré-escolar, 1.º ciclo e 2.º ciclo, da Life Vidália, projeto cofinanciado pelo programa LIFE da EU, pode ler-se que:
“Ipomoea indica bons-dias É uma trepadeira invasora muito agressiva e de difícil controlo, sendo capaz de invadir até as árvores mais altas da floresta. O seu nome comum faz menção às flores, que abrem pela manhã e fecham com o anoitecer. O seu nome científico revela a sua proximidade à espécie Ipomoea batatas, muito conhecida nos Açores como batata-doce.”(pg24)
A verdade é que estamos em 2023 e a Bons Dias é uma das espécies de flora invasora que prolifera ao longo de todo o matagal existente na ilha do Faial. Não me refiro às outras ilhas pois não consigo testemunhar o que aqui escrevo por ausência da minha presença nas mesmas, mas no Faial a triste realidade está aí para locais e turistas verem.
Parece-nos que a autonomia dos Açores ainda confere poderes ao Governo dos Açores para passar das palavras, dos planos e dos projetos bem organizados e arquitetados, para uma ação eficaz e radical de modo a que as nossas matas possam ser salvas e os termos do Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasoras em Áreas Sensíveis, (PRECEFIAS), encontre a sua realização efetiva.