Joana Gomes

A importância dos animais nos processos de violência doméstica

16 de Janeiro de 2023


Os/as portugueses/as cada vez mais optam por ter animais de estimação, entre 2019 e 2020, o número de animais em lares portugueses aumentou 31%, correspondendo assim a 2,6 milhões de animais registados. É compreendido que a relação entre ser humano e animal é muito especial, muitas vezes o animal é considerado como um membro da família.

No caso das vítimas de violência doméstica, o elo de ligação tende a ser mais intenso, interferindo assim em todo o processo, desde a fase do diagnóstico até à fase de intervenção social. No início da análise de um processo, é importante explorar a ligação que a família possui com o animal e, se for identificado algum tipo de abuso para com o animal de estimação, é muito provável que o mesmo aconteça com algum membro do agregado familiar, o que muitas vezes acaba por ser a mulher. Inclusive existe um estudo científico do Reino Unido, que reconheceu que 95% dos casos de violência doméstica existia violência contra os animais. Da mesma forma, esta relação pode-nos ajudar a entender melhor a vítima e as suas decisões, frequentemente o agressor utiliza os animais para ameaçar e manipular e em casos extremos magoam-nos ou matam-nos.  Por exemplo o agressor é capaz de dizer, “Para a próxima mato-te é a ti” ou “Podes-te ir embora, mas o animal fica é comigo”.

Na fase em que a vítima já saiu de casa, a atenção dada a esta relação não deve ser descuidada, visto que existe uma complexidade de fatores que dificultam o seu processo de recuperação e reinserção na sociedade. Uma das questões a se considerar são as casas abrigo que, muitas vezes, não aceitam animais de estimação, obrigando na maioria dos casos a abandoná-los. Diante disso, outra questão, a se considerar é a batalha pela custódia do animal, naturalmente dada as políticas anti-animais das casas abrigo, o agressor pode ficar responsável pelo animal de estimação.

Todos estes fatores de stress respetivamente aos animais de estimação, geram um processo de luto. Em conformidade com vários estudos científicos, o ser humano pode sofrer com a perda do seu animal de estimação, como quando perde um ente querido ou amigo. Tal como o processo de violência doméstica, o processo de luto é muito profundo, podendo este agravar a saúde mental da vítima. É importante compreender que a vítima não sofre apenas quando o animal morre, ela pode entrar num processo de luto quando, 1) vê o agressor a bater ou vê ferimentos no animal, pois sabe que um dia o animal vai acabar por falecer, 2) perde custódia ou abandona o seu animal, ela sabe que ele está vivo, mas perdeu o direito de o ter na sua vida. O luto pelo animal de estimação é muitas vezes desvalorizado pela sociedade, uma vez intercetado com outros fatores que criam stress prolongado na pessoa, pode gerar pensamentos/tentativas suicidas.

Considerando a crueldade envolvida nas ocorrências de violência doméstica, pode dizer-se ser ainda mais cruel que as próprias políticas e intervenções sociais não protejam a relação entre vítima/animal de estimação. Por isso, torna-se imprescindível um maior investimento em respostas multi/interdisciplinares em processos que tenham a seu encargo animais de estimação. O objetivo das instituições sociais deverá ser sempre em prol da vítima e da atenuação da sua dor e sofrimento. 

 

Os/as portugueses/as cada vez mais optam por ter animais de estimação, entre 2019 e 2020, o número de animais em lares portugueses aumentou 31%, correspondendo assim a 2,6 milhões de animais registados. É compreendido que a relação entre ser humano e animal é muito especial, muitas vezes o animal é considerado como um membro da fam&…





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