Jorge Moreira Leonardo

Um Criado Titular (VI)

11 de Janeiro de 2023


José: (pegando num espanador de penas e limpando os móveis atabalhoadamente): - Belo, Belo, suponho que o convenci. Nunca esperei sair-me tão bem. Apesar da empresa ser muito arriscada, parece-me que o pior já passou. Preciso é ter tento na bola e aguardar. Vou aproveitar a ocasião para fumar um dos charutos do Barão. Acendeu o charuto mas mal deu a primeira fumaça, Laura entrou no salão e ao vê-lo tentar apagar o charuto disse-lhe: - Não apagues, fuma à vontade, hoje mereces. Vamos continuar a conversa que meu pai interrompeu.        

José: - A menina pensava que eu me estava declarando!

Laura: - Sei lá!  Via-te tão entusiasmado que cheguei a pensar. Mas, diz-me, costumas falar com o sr. Conde?               

José: - Quando vou a caminho de casa, ele, uma vez por outra, aborda-me para saber coisas da menina.

Laura: - E que diz?

José: -Tudo quanto diz um coração apaixonado.

Laura: - E quanto ao casamento? Já desistiu?   

José: Qual nada! Fico até com a impressão que ele tem qualquer plano para convencer o seu pai. Mas como é óbvio não me contou.

Laura: - Obrigado, José. E de agora em diante podes fumar à vontade. Eu vou ver o que se passa na cozinha.

Entretanto na cozinha enquanto prepara o jantar, Maria vai pensando no José: desde a primeira vez que o vi achei muitas semelhanças com o sr. Conde. Bem sei que o cabelo não tem qualquer semelhança e o sr. Conde nunca usou bigode. Mas a voz. E a coincidência do sr. Conde ter deixado de aparecer à menina exactamente quando o José foi admitido nesta casa. O facto de não ficar de noite no quarto reservado ao criado. Até tenho a impressão que ele me evita. E depois como criado, não faz nada de jeito. Será este o plano de que ele falava à mãe? Mas tenho uma maneira de descobrir. É só apanhá-lo distraído o que acontece muitas vezes. Com o jantar pronto para quando chegar a hora, e sabendo o José no salão, foi lá pé ante pé. Por sorte o José estava tão embrenhado nos seus pensamentos que nem deu por ela. Então chegou junto dele e ciciou: - Menino!                                           

José: -(apanhado de surpresa) Olá Ma… e após uma curta pausa,   disse que desde que a vira entrar receou que isto acontecesse. E agora, vais denunciar-me?    

Maria: - Parece impossível que o menino, perdão o sr. conde,  pense uma coisa dessas de mim! Estou até disposta a colaborar. Gostava de vê-lo feliz.

José: - Desculpa. O que tens de fazer é manter absoluto silêncio, quer na presença do sr. Barão, quer da menina. Que continue tudo como dantes. Pelo menos até amanhã à noite. Vais ter uma surpresa.                 

Maria: - Mas como chegou aqui?

José: - Depois do pai me ter dito que preferia dá-la a um dos criados do que a mim, desisti de o procurar. Pensei numa maneira de o fazer mudar de ideias. Um dia vi um anúncio em que ele queria um empregado para todo o serviço. Eu que não sirvo para serviço nenhum (Maria: - A quem o diz!) vim oferecer-me e fui aceite. O resto já sabes.

 

José: (pegando num espanador de penas e limpando os móveis atabalhoadamente): - Belo, Belo, suponho que o convenci. Nunca esperei sair-me tão bem. Apesar da empresa ser muito arriscada, parece-me que o pior já passou. Preciso é ter tento na bola e aguardar. Vou aproveitar a ocasião para fumar um dos charutos do Barão. Acendeu o charuto mas mal de…





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