Naquele dia o meu ser estremeceu,
Na consciência da mente,
A menina pequenina que se tornou mulher,
A jornada de vida,
A violência no meu corpo,
A violência no meu ser,
As vozes que ecoavam na minha cabeça
As humilhações, o desrespeito,
A minha essência sem voz,
O meu corpo que parecia uma boneca de trapos,
Tão frágil e vulnerável como as suas costuras,
O embate no chão, na parede, o arrastar dos cabelos,
A súplica para que parasses, o sentir da impotência,
A vida do meu ser a esvair-se,
A minha dignidade sem chão,
Seria o fim?
Quem me estende a mão?
Suplico-te que pares, mas não me ouves,
Só sinto a tua raiva projetada em mim,
No meu corpo, no meu ser, na minha alma,
Afinal que amor é este que me dás?
Que domina e me amarra,
Que me castra no meu âmago,
Que Amor é este que dói?
Isto não é Amar,
Isto não é vida,
A minha escolha não é a morte,
Não a quero,
Quero ser livre, quero viver e sentir,
Quero sentir o vento, o sol, a chuva,
A água do mar nos meus pés,
Não sou mais um número,
Sou uma vida.
Carla Mourão
Psicóloga da UMAR-Açores do Faial