Faz todo o sentido falar de história própria a respeito de uma ilha. Por pequena que seja, e habitada por escasso número de seres humanos, uma ilha constitui necessariamente um universo limitado de acontecimentos a que corresponde uma cronologia autónoma. Claro que, num arquipélago unido por uma organização política e administrativa – convertendo-o numa “região” -- e por largos traços de uma cultura comum, essas particularidades insulares tendem a ser negligenciadas – mas é pena. Quando se fala de história da ilha do Faial, o que vem à tona são, basicamente, fenómenos emblemáticos como a baleação e a época dos Dabneys, a empreitada dos cabos submarinos, a saga dos Clippers e a erupção dos Capelinhos. Em geral, a história de mais de quatro séculos de presença humana na ilha desaparece na narrativa global do arquipélago – e, mais uma vez, é pena. No que toca propriamente ao Faial, o que encontrei de melhor, para além dos “Anais” de Marcelino Lima – cujo mérito lhe deu o direito a nome de rua -- , é um texto publicado em 2019, sob o emblema do Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo (https://philangra.blogspot.com), e da autoria de António Couto. Cheio de factos interessantes e primorosamente ilustrado, esse texto merece forte aplauso. Mas, lá está: do século XVI salta para o Século XIX, o que parece significar que nada aconteceu na ilha em mais de duzentos anos. E, daí para diante, são os Dabneys, a baleação, os cabos, os hidroaviões e os Capelinhos… As grandes figuras históricas ordinariamente citadas distinguiram-se, sobretudo, no Continente. E a história – a pequena história, se se quiser – desse singular pedaço de terra habitado continua, em grande parte, por fazer.