Jorge Moreira Leonardo

Um Criado Titular (III)

16 de Novembro de 2022


Laura, regressando e dirigindo-se ao pai que, entretanto se sentara à escrivaninha, consultando uns documentos: - Pai aqui estou! Que queria dizer-me?

Barão: - Quero recordar-te que evites conversas com a empregada. Muito particularmente com esta que muito bem sabes onde já trabalhou. E ninguém poderá garantir que ela fique aqui de pedra e cal.

Laura:  - Então a quem hei-de confessar as minhas mágoas?

Barão: - Ora essa! A mim, a mim que sou teu pai e que nunca te faltei com coisa nenhuma. Os teus pedidos são imediatamente atendidos e não sei que mágoas possas ter, visto não estares doente e viveres no luxo e na abundância.

Laura: - Isso de nada vale quando se sofre do coração.

Barão - (anda por aí paixão) Não te apoquentes, hei-de arranjar pretendente digno de ti!

Laura. - (ironicamente) muito obrigada!

Barão: - Por enquanto não agradeças e agora vai para o teu quarto descansar. Como amanhã é dia do teu aniversário, quero que estejas alegre e bem disposta e que dês uma vista de olhos pela casa, pois a criada é nova e não sabemos o que vale. Lembra-te que convidei teus tios e primos. Se vires o José, manda-o ter comigo.

E continuou falando para si: - A pequena tem razão, mas não posso ver o actual conde de Nilo sem recordar a imagem do pai. Por outro lado, ao contrariar o namoro, sinto que estou em contradição comigo próprio, pois recordo a luta que tive de travar com os meus pais para casar com a mulher que amava. Eles que até já me tinham escolhido noiva. É nestas ocasiões que mais sinto a falta da minha querida Irene. Ela decerto já me teria ajudado a tomar a decisão mais sábia. E não duvido que seria a favor do consentimento.

José - entrando a tempo de ouvir as últimas palavras do Barão, pensou, estou tramado: - Bons dias patrão.                                                                                                               

Barão: - Já hoje nos vimos!

José: - Isso não obsta a que o cumprimente mais uma vez!  Eu ouvi as últimas palavras que o patrão murmurou e pareceu-me que algo o preocupa. Será que poderei ajudar?

Barão: - Tenho de comprar uma oferta para a minha filha, pois ela amanhã faz anos. Mas o que oferecer a quem já tem tudo. És capaz de dar uma ideia?

José: (pensando. Sou, mas não me atrevo.) Realmente não é fácil. Mas se o patrão me der algum tempo talvez consiga.

Barão: - Está bem. Eu vou sair e quando voltar espero que já tenhas pensado em algo.

José: - Vou aproveitar e fumar um dos charutos do patrão! Dirigiu-se ao armário onde sabia que estavam os charutos e retirou um que acendeu e sentou-se à escrivaninha a fumar. Ia a meio do charuto, quando ouviu passos. Apagou o charuto e ia a sair, mas não tão lesto que a patroa não o tivesse apanhado.

Laura (irritada): - José! Que cheiro a fumo é este?

José: - O vosso pai fumou um charuto antes de sair.

Laura: - Vou acreditar! Mas ai de ti se andas a fumar dentro desta casa. Diz à Maria para vir falar comigo.

José: - Sim, menina.

Laura, regressando e dirigindo-se ao pai que, entretanto se sentara à escrivaninha, consultando uns documentos: - Pai aqui estou! Que queria dizer-me?

Barão: - Quero recordar-te que evites conversas com a empregada. Muito particularmente com esta que muito bem sabes onde já trabalhou. E ninguém poderá garantir que ela fique aqui de pedra e cal.





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