Carlos Faria

Antes que tudo arda

04 de Outubro de 2022


Ouvindo as notícias, o mundo parece-me estar a ficar cada vez mais perigoso, a assemelhar-se a um barril de pólvora a ser cercado por um incêndio. Este ainda não se tinha livrado da pandemia e eis que o País mais extenso do planeta e detentor de armas nucleares invadia o Estado independente exclusivamente Europeu de maior área e o risco de incêndio planetário subiu exponencialmente.

Entretanto, Portugal, como a nação europeia mais distante das frentes de combate, teve a sorte de se encher de turistas que causaram um dos maiores aumentos do produto interno bruto do velho continente depois da queda vertiginosa que ocorrera durante o confinamento devido ao Covid-19: eis um milagre económico! Em paralelo, a inflação subiu significativamente, mas, mesmo assim, muito menos do que a ascensão dos preços nos Estados próximos da guerra: eis uma maravilha para as receitas do Estado!

Estas duas coisas juntas são responsáveis por uma melhoria das contas públicas como nunca visto no pós 25 de Abril. Soa como o mal dos outros ser bom para nós. A verdade, é que a curto-prazo foi, mas assenta na fragilidade do barril de pólvora no meio do incêndio, num instante tudo isto colapsa.

Já não é a primeira vez que muitos Portugueses lucram com as guerras na Europa. Na Segunda Grande Guerra Mundial, milhares de cidadãos deste País fizeram muito dinheiro com o volfrâmio e acabado o conflito com a vitória compartilhada entre os Estados democráticos do ocidente e o regime de partido único soviético, o nosso País estava tão ou mais pobre do que antes e, enquanto as ditaduras do centro do Velho Continente caíram, fortaleceram-se as da Pensínsula Ibérica e o desenvolvimento socioeconómico de Portugal foi progressivamente ficando para trás face às democracias do hemisfério em que estávamos inseridos.

Infelizmente, já existem sinais de que mesmo que o atual conflito na Europa não descambe numa incineração global, Portugal apenas teve fogachos. Depois, o País volta a afogar-se no vício habitual de optar por medidas populares e fáceis de efeito imediato que se perdem no tempo em detrimento de ações estruturais que tragam o progresso que há mais de um século esta nação vê por um canudo.

Para já não faltam anúncios dos mesmos grandes projetos nacionais como se repetiram ao longo das décadas de democracia: TGV, Aeroporto de Lisboa. Estes só servem agora para camuflar um Governo de Portugal à deriva que dá com uma mão hoje aos pensionistas para lhes tirar amanhã ou devolve uma esmola este mês a quem trabalha mas retirada do muito daquilo que lhes cobrou em impostos ao longo deste ano.

Medidas estratégicas de fundo para se corrigir as disfunções estruturais do País, mudar de rumo e entrar na rota do desenvolvimento sustentado de Portugal: nada!

Infelizmente é este o Portugal de sempre, enchemos os noticiários com escândalos de aproveitamentos de políticos que nos chocam, para logo se perceber que a pouca vergonha é legal, pois entre os maiores beneficiários desta falta de ética estão os que movem os cordelinhos de quem faz as leis e quando em seguida se legisla para remediar, é com uma mezinha para ludibriar quem não vê nas entrelinhas as portas escancaradas para os grandes esquemas.

Espero que não se perca o controlo da guerra que mina a Europa. Já se percebe que dificilmente será alcançada uma paz justa. Mais provavelmente assistiremos a um conflito duradouro e o aparecer de um povo novo mártir das estratégias globais, mas não está eliminada a possibilidade desta batalha escapar mesmo ao controlo e assistirmos a uma carnificina como nunca vista pela humanidade, mas a vida na terra dificilmente acabará, poderá tornar-se muito diferente do que foi este o equilíbrio após os dinossáurios. Todavia deverá originar num novo ecossistema global.

Entretanto, para os que ainda estão em paz: pão e circo continuam a florescer, um pouco mais caro, é certo, mas o turismo é uma prova desta realidade de que os Açores têm beneficiado. Aproveite-se!

Ouvindo as notícias, o mundo parece-me estar a ficar cada vez mais perigoso, a assemelhar-se a um barril de pólvora a ser cercado por um incêndio. Este ainda não se tinha livrado da pandemia e eis que o País mais extenso do planeta e detentor de armas nucleares invadia o Estado independente exclusivamente Europeu de maior área e o risco de incêndio…





Para continuar a ler o artigo torne-se assinante ou inicie sessão.


Contacte-nos através: 292 292 815.
107
Outros Artigos de Opinião
"A História de Abandono da Igreja de Nossa Senhora…"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Finalmente arrancou a 2ª fase da variante"
Carlos Faria

REFLEXOS DO QUOTIDIANO
.
"As Obrigações de Serviço Público prejudicam o Fai…"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Democracia, mas não muita…"
Rui Gonçalves

A ABRIR
.
"Uma guerra movida por interesses que não são noss…"
Carlos Frayão

REFLEXOS DO QUOTIDIANO
.
"A Resignação da Asfixia das Liberdades"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.
"Sinais de esperança"
Carlos Faria

REFLEXOS DO QUOTIDIANO
.
"Pela igualdade, contra a invisibilidade"
Isabel Lacerda

REFLEXOS DO QUOTIDIANO
.
"A propósito das «causas profundas» da ascensão do…"
Carlos Frayão

REFLEXOS DO QUOTIDIANO
.
"Compromisso Comunitário: Processos de Reabilitaçã…"
João Garcia

AO ABRIR DA MANHÃ
.