Ao escrever, em plena Grade Depressão, sobre o papel das recessões na revitalização da economia capitalista, Joseph Schumpeter fala sobre a importância do empreendedorismo e da inovação, e de como os novos produtos e formas de produção que criam perante a mudança económica são essenciais para a revitalização da economia, perturbando a antiga ordem e estabelecendo novos mercados, para os quais se desvia o dinheiro, o que leva ao desaparecimento de mercados antigos. É isto que, segundo Schumpeter, torna as recessões um processo vital para o progresso dos mercados e dos negócios, por muito doloroso que seja.
E com a guerra na Ucrânia e as consequências nos mercados energético e alimentar, o perigo de uma recessão nunca foi tão real. No entanto, à semelhança do que defende Schumpeter, podemos estar diante de um momento de avanço. A atual conjuntura económica, ambiental e político-social demonstrou o quão frágeis e vulneráveis estamos em termos energéticos e de como é urgente transitarmos para os renováveis. Desta forma, precisamos de inovadores e empreendedores que encontrem novas formas de produzir energia, sobretudo através das energias verdes. No entanto, e ao contrário do que defende o economista, esta não tem de ser uma renovação dolorosa, caracterizada pelo desemprego dos trabalhadores dos sectores que se iriam desmoronar com a transição energética, como o dos combustíveis fósseis. E nesse sentido, devemos trabalhar para assegurar uma transação estável dos trabalhadores para o mercado energético renovável com o mesmo afinco com que procuramos inovar.
Não faltam exemplos que demonstram que este género de assistência é possível. Basta olharmos para as Land-Grant Colleges, que eram sustentadas pelo Congresso dos EUA para treinar uma força laboral capaz de responder às necessidades de uma nação em rápida industrialização, ou a G.I. Bill, criada para conceder certos benefícios aos veteranos da Segunda Guerra Mundial e ajudá-los a reajustarem-se à vida civil. Ambos bons exemplos de como é possível preparar as pessoas para o futuro e preservar postos de trabalho face à evolução da economia. Da mesma forma, é essencial apresentarmos uma solução igualmente credível que permita aos trabalhadores do mercado da energia fóssil transacionar para o mercado das energias renováveis e terem uma vida igualmente decente, em vez de os abandonarmos à sua sorte para enfrentarem o possível desemprego, o que poderia levar milhares de trabalhadores a se sentirem revoltados e a apoiarem discursos protecionistas que se oponham ao desenvolvimento das energias renováveis.
Mas esta é uma iniciativa que não pode vir apenas do governo e do setor público. Se por um lado, a transição energética nos leva a repensar o papel do governo e qual a sua posição na construção de uma nova sociedade, por outro, também nos leva a repensar a forma como fazemos negócio. É necessário repensar a máxima “business as usual” e incentivar os novos empreendedores a pesarem fatores como o clima (e outros problemas sociais) quando tomam decisões nos seus negócios, em vez de se guiarem somente pelo lucro.
Neste sentido, Tobias Hahn, no seu artigo intitulado Teaching CSV will not breed sustainable business leaders, defende que se tem de questionar as visões tradicionais das finanças e gestão sobre os problemas sociais, as quais se recusam a ir além da visão do rendimento e que abordam apenas os problemas que se alinham com o objetivo do lucro. Em oposição, diz ele, é preciso reconhecer que muitos problemas sociais são complexos, e que vão sempre criar problemas e obstáculos aos negócios. Mas em vez de se rejeitarem estas tensões, devemos aceitá-las e partir daí para encontrar novas soluções e contestar as ferramentas mais tradicionais, algo que Hahn designa de “paradoxical thinking”. Encontrar soluções para um problema complexo pode levar-nos a pôr de parte o objetivo do lucro por um pouco, mas os resultados podem produzir negócios mais resilientes e preparados para lidar com os desafios sociais atuais. Basta olhar para a Toyota e para o desenvolvimento da tecnologia híbrida.
Tudo isto para dizer que é preciso incentivar as empresas a adotarem esta forma de pensar defendida por Tobias Hahn, o que por sua vez as levaria a procurar por soluções para a modernização dos seus processos que pudessem incluir, entre outras coisas, o menor número de despedimentos possível, ou que investisse na formação dos trabalhadores nestas novas áreas. E na região dos Açores, já há quem pense assim. O campo de ciências da TERINOV, em Angra do Heroísmo, é uma iniciativa conjunta entre o privado e o público. Com as suas vertentes de gestão empresarial, investigação e biotecnologia vegetal, não só apoia start-ups com uma forte componente ambiental, como também procura entrar em contacto com grandes empresas da região, como a UNICOL, e procura dar-lhes a conhecer os benefícios de adotarem as tecnologias que eles próprios desenvolvem. Desta forma, apoiam a criação de negócios verdes e apostam na transformação gradual dos que já existem, sendo que esta última iniciativa permite aos negócios adaptarem de forma gradual e dá uma oportunidade aos respetivos trabalhadores de se adaptarem também de forma gradual ao serem-lhes apresentadas estas novas tecnologias.
Em conclusão, podemos dizer que são muitos os desafios que a transição energética e o combate às alterações climáticas nos apresentam. Mas ter de lidar com o desemprego dos trabalhadores de antigos setores, enquanto se criam postos de trabalho, não tem de ser um deles. E eu creio que tanto empresas como governos deviam investir mais tempo e recursos no solucionamento de aspetos fundamentais da transição energética, como este, em vez de se concentrarem em soluções superficiais, como incentivar as pessoas a comprar carros elétricos.