Outro dos amigos mais íntimos era o Nuno de Morais, colega de Direito, alfacinha da gema, ricaço, possuidor de automóvel – coisa rara, ao tempo – que, pelo menos uma vez por mês, visitava os pais e o convidou para um fim-de-semana na Capital. Aceitou com entusiasmo, pois. Lisboa, só conhecia de passagem. Como o Nuno dedicava a maior parte desses dias à namorada, apesar dos protestos dos pais, ele dispunha de muitos momentos livres para fazer o que muito bem lhe apetecesse.
Num desses momentos e, após muitas hesitações, resolveu visitar a Sofia, carregando consigo a suspeita de que seria recebido com alguma indiferença. Porém, quando ela abriu a porta e deu de caras com ele, e, após alguns instantes de silêncio, decerto provocados pela surpresa (mas que lhe pareceram a confirmação das suas suspeitas), ela, abraçando-o, quase gritou: – Francisco!!!
Fê-lo entrar em casa e foi de mãos entrelaçadas, que apareceram à porta da sala de estar onde o pai gozava algum descanso, assistindo a um qualquer programa televisivo. Este, passada também a surpresa, levantou-se e com manifesta satisfação, abraçou-o.
Falaram durante algum tempo, mas, a determinada altura, o pai, que já havia insistido para que ele jantasse com eles, sugeriu que, entretanto, aproveitassem o tempo para visitarem uma boa parte de Lisboa que, pelo decurso da conversa, percebeu que ele mal conhecia. Um telefonema para casa dos pais do Nuno, relatando a situação, e lá saíram no carro dela, um bonito modelo desportivo. Passearam longas horas. Ele sempre um pouco retraído, mas ela era a imagem da felicidade.
Após o jantar, passaram à sala onde foi servido o café e conversaram mais algum tempo, quase sempre sobre a vida dele e as suas perspectivas de futuro, e, desta feita, se não referiu o seu namoro com a Joana, foi uma atitude deliberada, disso não tem a menor dúvida. Porém, e, apesar de estar adorando aquele momento, recordou a necessidade de se retirar, pois não queria chegar a casa do amigo a horas menos convenientes. Ela prontificou-se a levá-lo, apesar dos seus protestos. Despediram-se, ainda dentro do carro, com novo abraço, mas bastante mais prolongado. Ficou à porta vendo-a circundar a rotunda e, quando ela passou de novo por ele, acenou-lhe, ao que ela correspondeu, num gesto de ternura, beijando a palma da mão e soprando na sua direcção.