Carlos Faria

Balanço no verão do fim do ano político nos Açores

26 de Julho de 2022


Vamos entrar em agosto, época de férias do parlamento regional e, quando este reabrir, a agenda começa a ser principalmente marcada com o plano e orçamento para o próximo ano civil a propor pelo Governo dos Açores em exercício. Efetivamente, à semelhança do ano letivo, na prática, os anos políticos começam em setembro/outubro e estendem-se até julho, depois vem a silly season das férias políticas e o ciclo recomeça de novo no outono.

Assim, o final de julho é um bom momento para se olhar para trás e fazer um balanço do que foi o último ano político nos Açores, já que, no âmbito nacional, este foi atípico, pois foi anormalmente interrompido com a dissolução da Assembleia da República, realização de eleições legislativas, posse do novo executivo e este só agora completou cem dias de exercício efetivo de funções.

Já nos Açores tudo foi normal num ano não eleitoral e, confesso, antecipando o balanço, há que assumir que nem tudo foi bom. Aliás, as deceções mancharam o executivo regional já fora do período de graça em que se admite erros e muito se perdoa pela inexperiência dos novos titulares governativos, mesmo que tivessem estado no passado envolvidos neste tipo de exercício.

Um dos aspetos que continua a perceber-se e de forma doentia é que no que se refere aos erros, a culpa é atribuída pelos membros da coligação como um exclusivo do PSD. Em contrapartida, as medidas populares ou são partilhadas por todos ou, por norma, são assumidas como iniciativa de um dos partidos minoritários. Até há cartazes a assumir louros de ações como se as decisões não tivessem sido tomadas e discutidas em Conselho de Governo, nem envolvessem o Secretário das Finanças e fossem à revelia do conjunto. Pronto tem sido assim! Mas quem deixa as minorias erguer mais alto as suas bandeiras do que a maior força que puxa pela carroça sujeita-se a isto.

Já em termos de erros houve de facto alguns e graves, a questão dos atrasos no projeto do Porto Espacial em Santa Maria e dos investimentos MARTEC no Faial começam a ser preocupantes e a deixar o executivo em maus lençóis, mas a questão das Agendas Mobilizadoras foi a mais grave e pode ser muito penalizadora para esta Coligação se os 117 milhões se perderem nesta confusão. Os titulares dessas competências foram substituídos por pesos mais pesados na estrutura partidária do PSD, mas o problema ficou. Já as questiúnculas de nomeações, exonerações, vacas anãs e outros quejandos, sabe-se que resultaram de vícios de partidos menores, mas chamuscaram foi o o maior.

No Faial, além de não surgirem iniciativas inovadoras, a esperança de que a ampliação da pista do aeroporto iria ser vista com novos olhos pelo Governo dos Açores, na verdade, passou-se de uma atitude assumidamente de não intervenção regional do tempo de Cordeiro, para uma de disponibilidade do executivo regional de Bolieiro envolver-se na solução, para agora, no fim do ano, estar-se a dizer: damos apoio, mas não é nada connosco é com a República.

Pior que ser pouco, os últimos posicionamentos no Governo dos Açores nesta questão, refletem um recuo no ativismo inicial para se atender esta longa reivindicação dos Faialenses e não augura nada de bom. Deixámos de ter um Executivo que antes dizia: não contem comigo! Para agora ter um outro que começou por dizer: Comigo podem contar! E agora passou a dizer: Concordo convosco... mas isso não é nada comigo!

Lamento, eu há muito que sou pessimista em termos de boa-vontade dos governantes açorianos para com o Faial. Mas na verdade, foi o atual governo quem semeou esperança na questão do aeroporto e está agora com as últimas declarações a desiludir-me e não é pouco.

Verdade, nem tudo foi mau: em termos de transportes aéreos, o atual Governo de coligação tem motivos para dizer ao PS que este estava errado no que se referia à conveniência e possibilidade de uma tarifa Açores acessível aos residentes nas circulações inter-ilhas. Tal como é preciso muita desfaçatez para Vasco Cordeiro fazer agora uma única crítica à estratégia atual para salvar a SATA perante o calamitoso uso que fez daquela empresa que, praticamente, a deixou irrecuperável.

Sim, no exercício do atual executivo nem tudo foi negativo, mas há de facto muita coisa para melhorar para não correr o risco de merecer uma reprovação no final de ciclo.

Vamos entrar em agosto, época de férias do parlamento regional e, quando este reabrir, a agenda começa a ser principalmente marcada com o plano e orçamento para o próximo ano civil a propor pelo Governo dos Açores em exercício. Efetivamente, à semelhança do ano letivo, na prática, os anos políticos começam em se…





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