Carlos Faria

Novamente ficamos pelos mínimos?

14 de Junho de 2022


Alguém me dirá: é melhor o mínimo do que nada e eu quedo-me a olhar para a baía do porto da Horta com este misto de orgulho e tristeza neste mês de junho nevoeirento...

Já há longo tempo que os Faialenses se habituaram a que os investimentos nesta ilha se fiquem pelos mínimos ou são faseados e depois não completados e até, por vezes, serem anunciados mas nunca concretizados.

As consequências de executar obras pelos mínimos das exigências do momento é que, em pouco tempo se tornam insuficientes, desatualizadas ou inadequadas. Quem tem olhado para a baía da Horta nas últimas semanas e analisa o que vê sente um misto de orgulho e tristeza. Orgulho, por ver todo o espelho de água repleto de iates, uma prova de como o nosso porto continua a cativar as gentes que atravessam o Atlântico Norte por prazer de velejar.

Contudo, logo a tristeza se junta ao percebermos que a dispersão de embarcações pela baía resulta num caos que é fruto do subdimensionamento inicial da construção da marina. Uma infraestrutura que não foi pensada para a Horta em termos de futuro, ou melhor, vários Faialenses avisaram dos problemas que adviriam da sua pequenez inicial e propuseram soluções construtivas com visões de longo-prazo. Infelizmente os alertas foram ignorados por quem então decidia e a obra nasceu anã e a ampliação que se fez nunca foi suficiente para cobrir as necessidades que se sabia à partida virem a existir posteriormente. Isto porque o projeto inicial condicionou todos os possíveis aumentos que se pensaram em seguida.

O que se passou com a marina nos primórdios da Autonomia parece estar a passar-se presentemente com a eventual ampliação do aeroporto da Horta. Esta infraestrutura também nasceu pequena e apenas limitada a contentar as necessidades mínimas daquela época.

Embora não seja dos tempos das minhas memórias, parece que já então mentes também com visões de longo-prazo alertaram e propuseram em voz baixa soluções menos constrangedoras do futuro que implicavam outras implantações, mas, naquele período, falar alto e contestar não era um ato de livre cidadania, vivia-se em plena ditadura. Aconteceu que passada uma década já a pista deste aeroporto era limitada para as ambições dos Faialenses. Entretanto, tal como a marina, esta infraestrutura já foi alvo de ampliações e mudanças de piso tendentes a melhorar a sua operacionalidade, sempre insuficientes para as necessidades e pretensões desta terra.

Quando há poucos anos o Faial se uniu em torno de uma ampliação condigna do seu aeroporto contra a falta de boa-vontade de quem detinha o poder político dos Açores e face ao comportamento submisso do Município da Horta, momento em que nada fazia para o aumento desta pista, vi efetivamente o Governo Regional e a Autarquia local tremerem e tive esperanças de algo mudar.

A mudança então operada na Câmara, de submissão ao então Governo dos Açores para passar a ser parte ativa aliada dos Faialenses através da cooperação com o Grupo do Aeroporto da Horta, o que levou à apresentação de soluções para desbloquear em definitivo os constrangimentos da dimensão da pista de molde a criar condições de futuro, levaram-me quase a acreditar na possibilidade de se concretizar o sonho de no Faial se voltar a fazer uma obra estruturante com visão de futuro.

Apesar de no passado recente já ter estado orçamentado pelo Governo da República a obra de ampliação desta pista da Horta sem que daí tenha resultado nada de concreto, a verdade é que ao se voltar a orçamentar este ano a elaboração de um novo projeto para este fim, amplamente divulgado mas sem menção das características do que se iria encomendar, fez nascer em mim o receio de que, à semelhança do que aconteceu nos primórdios da autonomia com a marina desta terra, voltaria a acontecer na próxima ampliação da pista uma obra pelos mínimos e sem perspetivas de futuro e parece cada vez mais evidente de que dos 2050 metros que se idealizou se passará a uma projeto para ser ter uma pista na ordem dos 1797m de comprimento.

Alguém me dirá: é melhor o mínimo do que nada e eu quedo-me a olhar para a baía do porto da Horta com este misto de orgulho e tristeza neste mês de junho nevoeirento...

Já há longo tempo que os Faialenses se habituaram a que os investimentos nesta ilha se fiquem pelos mínimos ou são faseados e depois não completados e até, por vezes, serem anunciados mas nunca concretizados.

As consequências de executar obras pelos mínimos das exigências do momento é que, em pouco tempo se tornam insuf…





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