O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, disse ontem que a maioria dos bispos católicos portugueses já teve encontros com vítimas de abuso no seio da Igreja.
Reiterando que a preocupação da Igreja tem sido no sentido “da atenção às vítimas”, José Ornelas disse em Fátima, no final da assembleia plenária do episcopado, que “a ninguém vai faltar o apoio necessário para sarar as feridas” provocadas pelos abusos.
Quanto à operacionalização desse apoio, é feito de forma centralizada, passando pelo Grupo VITA, liderado pela psicóloga Rute Agulhas, e pelas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, “os rostos da Igreja para o contacto” com as pessoas vítimas de abuso, acrescentou o prelado.
Segundo o também bispo de Leiria-Fátima, algumas vítimas estão já a ser acompanhadas, com os tratamentos a serem suportados pela Igreja.
Na Assembleia Plenária da CEP, que decorreu entre segunda-feira e ontem em Fátima, estiveram presentes membros do Grupo VITA e da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, liderada por José Souto Moura.
“Neste contexto, foi apresentado um Guia de Boas Práticas para o tratamento de casos de abuso sexual de menores e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal elaborado com o contributo das 21 Comissões Diocesanas, da Equipa de Coordenação Nacional e do Grupo VITA, que pretende uniformizar procedimentos e garantir a adequada articulação”, anunciou o secretário da CEP, padre Manuel Barbosa.
De acordo com o comunicado final da reunião, “entre os temas deste Guia de Boas Práticas, que foi aprovado e será proximamente divulgado, estão as denúncias apresentadas junto do Grupo VITA e a sua articulação com as Comissões Diocesanas e a Procuradoria-Geral da República, assim como a atuação no apoio psicológico, psiquiátrico e espiritual das vítimas e agressores”.
“Este é mais um passo para prosseguirmos, com firmeza, o caminho de acolhimento às vítimas no seu profundo e doloroso sofrimento e um reforço do nosso compromisso de tudo fazer para as ajudar a superar os traumas causados pelas feridas que lhes foram infligidas”, acrescentou o comunicado.
Entretanto, José Ornelas assegurou que, em breve, será dada resposta à carta aberta da Associação de Vítimas de Abuso na Igreja em Portugal Coração Silenciado que, em 02 de novembro, manifestou aos bispos católicos portugueses, “tristeza, desagrado e indignação” pela forma como têm “lidado com o tema dos abusos sexuais na Igreja que conduzem”.