O número de famílias sobreendividadas que pedem ajuda à Deco aumentou, desde setembro, não só devido ao aumento do custo de vida, mas também à subida das prestações do crédito à habitação, com as primeiras revisões da taxa Euribor.
Nos orçamentos em que o rendimento é relativamente baixo ou com uma taxa de esforço elevada, o aumento do custo de vida já está a provocar, “mais do que derrapagens, verdadeiras ruturas dos orçamentos familiares”, afirma a coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, Natália Nunes, em declarações à Lusa.
Desde setembro, mais famílias estão a pedir ajuda perante os primeiros aumentos decorrentes da revisão periódica da prestação de crédito contratado com taxa variável indexada à Euribor.
“Começam agora a vir as primeiras revisões em que o impacto é significativo”, disse Natália Nunes, adiantando que é “uma grande preocupação” a atual perspetiva de a Euribor continuar a aumentar e a inflação continuar em valores elevados: “Portanto as dificuldades das famílias, infelizmente, vão manter-se por mais tempo”, concluiu.
O motivo dos pedidos de ajuda à associação mudaram nos últimos dois anos, explica a responsável, precisando que, em 2021, os contactos à associação eram mais de famílias que não tinham rendimentos suficientes, porque a pandemia tinha provocado uma redução significativa dos rendimentos ou mesmo uma total ausência.
“Em 2022 o que verificamos é que as famílias têm rendimentos, mas são manifestamente insuficientes para fazer face às despesas do dia a dia, muito por causa do aumento do custo de vida”, afirmou Natália Nunes, referindo-se à subida na fatura da alimentação, desde o início do ano, e da habitação (desde setembro), as duas grandes despesas dos orçamentos das famílias.
Este ano, até setembro, o sistema de apoio ao sobreendividado da Deco registou 20.036 pedidos de ajuda e de informação, quando em todo o ano de 2021 recebeu 30.000 pedidos e em 2019 pouco mais de 29.000 pedidos, segundo dados da associação.